O governo do Paraná decidiu prorrogar até 28 de dezembro o decreto que estabelece toque de recolher noturno, a lei seca e a proibição de aglomerações com mais de 10 adultos. As medidas têm como objetivo frear o contágio pelo novo coronavírus, que matou mais de 7 mil pessoas no Estado desde março. O novo decreto, divulgado nesta quinta-feira, 17, tem validade de 10 dias, a partir de sábado, 19, e pode ser prorrogado até janeiro de 2021.
O toque de recolher noturno está em vigor desde o dia 2 de dezembro. Das 23h às 5h, apenas serviços essenciais são permitidos. Dois dias depois, um novo decreto ampliou as restrições, proibindo a venda e o consumo de bebidas alcoólicas durante a madrugada.
Apesar das recentes medidas, o número de novas contaminações e mortes pela COVID-19 continuou em alta no Paraná. Nessa quarta-feira, 16, o Estado bateu recorde de óbitos em 24 horas ao confirmar 199 mortes por complicações da doença. Parte dos casos são retroativos. A taxa de ocupação dos leitos de UTI do SUS exclusivos para coronavírus tem se mantido entre 85% e 95% nos últimos 14 dias.
O secretário da Saúde do Paraná, Beto Preto, defende que o toque de recolher noturno, aliado à lei seca, enfrenta dois dos principais problemas: a transmissão do coronavírus e a superlotação dos hospitais públicos e privados. "Tivemos uma redução de 30% a 35% nos atendimentos de alta complexidade ligados a bebidas alcoólicas, como acidentes de trânsito, traumas, ferimentos por armas de fogo ou armas brancas", disse ele ao Estadão.
Para o médico José Rocha Faria Neto, do Centro de Epidemiologia e Pesquisa Clínica da PUCPR, as medidas são necessárias para frear o atual estágio da pandemia. Segundo ele, se analisados os casos novos pela data de diagnóstico, excluindo os registros retroativos, as restrições explicam parcialmente o recuo de 12% na média móvel do indicador. "Isso mostra, de certa maneira, a efetividade. Mais do que isso, a prorrogação é válida para manter o sinal de alerta aceso", disse o professor da Pontifícia Universidade Católica. O médico pondera, no entanto, que o cumprimento do decreto deve ser fiscalizado para que ele se mantenha efetivo no médio prazo.
Natal sem aglomeração
Com a prorrogação das medidas restritivas até o dia 28 de dezembro, o governo do Paraná espera coibir aglomerações nas festas de Natal. As reuniões familiares devem ser realizadas, no máximo, com a presença de 10 adultos. Crianças de até 14 anos não são incluídas na conta porque, segundo a Secretaria de Estado da Saúde, estudos indicam menor potencial de transmissão do coronavírus nessa faixa etária.
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Eventos em bares, restaurantes e clubes estão proibidos. Apesar disso, o decreto em vigor permite cultos religiosos, desde que respeitada a capacidade máxima de 30% dos templos e distanciamento mínimo de dois metros entre os fiéis.
"Pedimos para que as pessoas evitem se reunir e pensem no Natal de 2021, porque as decisões de agora serão fundamentais para que a gente possa planejar o futuro. Deixar de se reunir neste ano, em muitos casos, significa não ter a transmissão do coronavírus no ambiente familiar", afirmou o secretário Beto Preto, acrescentando que as medidas de restrição objetivam preservar vidas.
Sobre as festas de ano-novo, o chefe de pasta diz que a situação será reavaliada na última semana do ano. Se as medidas atuais não forem suficientes para arrefecer a curva de contágio, o decreto deve ser prorrogado, impondo as mesmas restrições do período de Natal ao réveillon.
Curitiba nega represamento de dados
Nos últimos dias, Curitiba liderou a alta de novos casos de COVID-19 no Brasil, de acordo com os dados do Ministério da Saúde. O boletim consolidado dessa quarta-feira, 16, incluiu mais de 14 mil registros da capital paranaense, embora o município tenha confirmado 1.477 diagnósticos.
A defasagem dos dados de Curitiba apresentados pela Secretaria de Estado da Saúde do Paraná e pelo Ministério da Saúde se deve à incompatibilidade dos sistemas utilizados. A partir de um esforço de revisão manual, casos registrados entre abril e novembro passaram a ser contabilizados nesta semana.
A Secretaria Municipal da Saúde (SMS) nega o represamento dos dados e alega que notifica diariamente os casos de COVID-19 às autoridades nacionais. A pasta também se defende ao argumentar que segue regularmente o protocolo de integração de dados com o Estado. "O conflito entre os sistemas e fluxos de notificação está sendo discutido em conjunto pelas secretarias a fim de corrigir as divergências", explicou o órgão, em nota.
Estudante de 24 anos morre por complicações da COVID-19
A média móvel de mortes em 24 horas no Paraná alcançou nessa quarta-feira, 16, o maior número desde o início da pandemia: 73. Entre as vidas perdidas está a do estudante Janel Labes, de 24 anos, que morreu na segunda-feira, 14, por complicações da covid-19.
Morador de São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba, Janel era conhecido pela influência positiva na comunidade e havia trabalhado nas últimas eleições. "Ele era amigo de todos, se comunicava muito bem, e usava esse talento para ajudar. Na escola, sempre foi presidente dos grêmios estudantis", conta o irmão mais velho, Ciro Labes.
Os irmãos tinham 15 anos de diferença, e com a perda precoce do pai, Ciro tornou-se uma referência para Janel. "O sonho dele era ser repórter esportivo. Quando tínhamos uma loja de som, ele ligava o microfone e saía entrevistando todo mundo. Estava no terceiro ano da faculdade, já estava trabalhando nos jogos e fazendo reportagens de campo", lamentou.