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Estado de Minas COVID-19

Especialistas acreditam que Bolsonaro fragiliza esforço por vacinas

Imunologistas ouvidos pelo EM reagem à fala do presidente de que ninguém pode ser obrigado a tomar imunizante. Frase contradiz lei assinada pelo próprio chefe da Nação de combate ao vírus


02/09/2020 06:00 - atualizado 02/09/2020 08:05

Profissionais de saúde tomaram, na UFMG, a vacina em desenvolvimento pelo Instituto Butantan e a chinesa Sinovac, uma das várias iniciativas em busca de imunização (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press - 31/7/20)
Profissionais de saúde tomaram, na UFMG, a vacina em desenvolvimento pelo Instituto Butantan e a chinesa Sinovac, uma das várias iniciativas em busca de imunização (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press - 31/7/20)


Enquanto, no mundo, a ciência busca proteção efetiva contra a COVID-19, doença causada pelo novo coronavírus (Sars-Cov-2), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) diz que “ninguém pode obrigar ninguém a tomar vacina”. A fala, dita anteontem na entrada do Palácio da Alvorada em resposta a uma apoiadora que lhe pediu para não permitir “esse negócio de vacina”, se tornou instrumento de campanha do governo pelas redes sociais. Especialistas da área de imunologia consultados pelo Estado de Minas concordam com a liberdade de escolha do cidadão, mas consideram a evidência no assunto uma forma equivocada de comunicação do governo à população, o que potencializa movimentos antivacinação no Brasil.

Em publicação feita ontem, a Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência da República divulgou imagem replicando a frase do presidente com a seguinte legenda: “O Governo do Brasil investiu bilhões de reais para salvar vidas e preservar empregos. Estabeleceu parceria e investirá na produção de vacina. Recursos para estados e municípios, saúde, economia, TUDO será feito, mas impor obrigações definitivamente não está nos planos.”



Flávio Guimarães da Fonseca, pesquisador e coordenador do Centro de Tecnologia de Vacinas (CT Vacinas) da UFMG, que também integra a Rede Vírus, núcleo criado pelo governo federal para o combate à COVID-19, relembra o episódio conhecido como Revolta da Vacina, uma rebelião popular contra a vacina anti-varíola, ocorrida no Rio de Janeiro, em novembro de 1904. “De fato, a determinação compulsória de vacinação não faz parte de um ambiente democrático”, comenta. Apesar disso, é necessário comprovar vacinação para entrar em alguns espaços públicos, privados e até em outros países, por exemplo.

“A decisão de vacinar é individual. Depende de cada cidadão. Nenhuma das vacinas são compulsórias, e olha que temos vacinas importantes, como aquela contra o sarampo que é potencialmente fatal. Temos contra a poliomielite, a febre amarela. São mais de 15 ofertadas no calendário e nenhuma delas é compulsória”, ressalta Fonseca, discorda da forma como o presidente diz isso à população. “Na minha opinião, a mensagem é correta, mas a forma como ela é passada, peremptória e com comunicação muito ruim acaba jogando lenha na fogueira no movimento antivacina, que é certamente um problema grande para erradicação de muitas doenças”, avalia.

''Seria muito mais adequado ao governo a conscientização da importância da vacina do que simplesmente sair falando que ninguém vai vacinar à força''

Flávio Guimarães da Fonseca, pesquisador e coordenador do Centro de Tecnologia de Vacinas (CT Vacinas) da UFMG



O especialista também destaca o caso do sarampo, doença que já foi praticamente erradicada em vários países e voltou nos últimos anos porque, entre outros motivos, as pessoas pararam de se vacinar. “Esse tipo de frase solta dessa forma, de cunho altamente ideológico político, joga lenha na fogueira. Ajuda a disseminar essas mensagens de grupos antivacina. Seria muito mais adequado ao governo a conscientização da importância da vacina do que simplesmente sair falando que ninguém vai vacinar à força.”

O cientista Ricardo Gazzinelli, presidente da Sociedade Brasileira de Imunologia, professor da UFMG e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz também acredita que não cabia a um presidente a frase dita por Bolsonaro.   “Não acho que um presidente deveria falar isso. Obrigar ninguém pode mesmo. O que tem que ser feito é estimular caso venhamos a ter uma vacina. Então, é ruim o presidente falar isso porque acaba estimulando a não tomar”, diz Gazzinelli.

Para o especialista, ainda é necessário aguardar uma vacina de eficácia comprovada para se discutir a capacidade de disponibilização à população. “Um presidente falar isso parece ser estímulo às pessoas não vacinarem. O que deveria é, obviamente, se tiver vacina com eficácia acima de 70% (que é o suficiente para impactar na transmissão do vírus), ser estimulada para a população se vacinar”, reforça.


Contradição


Embora o governo diga que a opção de tomar a vacina é de cada um, lei assinada pelo próprio presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em 6 de fevereiro de 2020, obriga a vacinação e outras medidas com a finalidade de impedir ou diminuir o risco de transmissão de uma doença aos brasileiros em meio à pandemia do novo coronavírus.

De acordo com o Artigo 3º da Lei 13.979 para o “enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do coronavírus” poderão ser tomadas as seguintes medidas: isolamento e quarentena. Determina também a realização compulsória de exames médicos, testes laboratoriais, coleta de amostras clínicas, vacinação e outras medidas profiláticas ou tratamentos médicos específicos.

''Não acho que um presidente deveria falar isso. Obrigar ninguém pode mesmo. O que tem que ser feito é estimular, caso venhamos a ter uma vacina''

Ricardo Gazzinelli, presidente da Sociedade Brasileira de Imunologia e pesquisador da Fiocruz


Pesquisa Apesar das declarações do governo, pesquisa feita pelo instituto Ipsos divulgada ontem aponta que aproximadamente três em cada quatro adultos aceitariam tomar uma vacina contra a COVID-19 caso ela já estivesse disponível. No mundo, o Brasil é o segundo com maior parcela de cidadãos dispostos a receber o imunizante, com 86% de respostas afirmativas, perdendo apenas para a China (97%). (Colaborou Ana Mendonça, estagiária sob supervisão da subeditora Marta Vieira)


Minas define plano para imunização

A Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) anunciou, ontem, a preparação de um plano de contingenciamento para imunização contra a COVID-19. Segundo o chefe da pasta, Carlos Eduardo Amaral, a ideia é que o protocolo oriente os municípios no processo de vacinação da população mineira, tão logo o imunizante esteja disponível no mercado. Em live transmitida à noite, ele anunciou que o estado já comprou equipamentos e vem organizando agenda para a vacinação em massa.

“Precisamos estar preparados para termos condições de levá-la a cada cidadão. Esperamos ter a rede estruturada, treinada e preparada para a ação”, afirmou o secretário, que na transmissão esteve acompanhado da diretora de Vigilância de Agravos Transmissíveis, Janaína Fonseca, e do secretário-adjunto de Saúde, Marcelo Cabral. Carlos Eduardo disse que a imunização tem de ser segura e eficaz: “De forma nenhuma vamos antecipar a distribuição da vacina. Para fazer vacinação em massa é fundamental que tenhamos a validação de uma vacina. Isso significa que ela tem de passar por todos os estágios da comprovação científica, imunizando a pessoa. E ela tem de provar que é segura. O número de complicações tem de tender a zero”.

Janaína Fonseca, por sua vez, diz que Minas já tem programada a compra de acessórios para organizar as etapas da vacinação, ainda sem data prevista: “Vários processos de compras já estão em andamento, sobretudo seringas em agulhas, porque elas podem estar em falta no mercado.”.

O plano estadual prevê a compra de seringas, refletores e câmaras de refrigeração para regionais do estado e municípios. Para a aplicação das doses, a secretaria anunciou a criação de 15 centros de referência em imunobiológicos especiais (Crie) e Vigilância de Eventos Adversos Pós-Vacinação em todo o estado.  O Brasil trabalha com duas imunizações na última fase de desenvolvimento. São as parcerias da  Universidade de Oxford com a Fundação Oswaldo Cruz e do laboratório Sinovac com o Instituto Butantan e a UFMG. (Roger Dias e Cecília Emiliana)

O que é o coronavírus


Coronavírus são uma grande família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doença pode causar infecções com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte.
Vídeo: Por que você não deve espalhar tudo que recebe no Whatsapp

Como a COVID-19 é transmitida? 

A transmissão dos coronavírus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secreções contaminadas, como gotículas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal próximo, como toque ou aperto de mão, contato com objetos ou superfícies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.

Vídeo: Pessoas sem sintomas transmitem o coronavírus?


Como se prevenir?

A recomendação é evitar aglomerações, ficar longe de quem apresenta sintomas de infecção respiratória, lavar as mãos com frequência, tossir com o antebraço em frente à boca e frequentemente fazer o uso de água e sabão para lavar as mãos ou álcool em gel após ter contato com superfícies e pessoas. Em casa, tome cuidados extras contra a COVID-19.
Vídeo: Flexibilização do isolamento não é 'liberou geral'; saiba por quê

Quais os sintomas do coronavírus?

Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:

  • Febre
  • Tosse
  • Falta de ar e dificuldade para respirar
  • Problemas gástricos
  • Diarreia

Em casos graves, as vítimas apresentam:

  • Pneumonia
  • Síndrome respiratória aguda severa
  • Insuficiência renal
Os tipos de sintomas para COVID-19 aumentam a cada semana conforme os pesquisadores avançam na identificação do comportamento do vírus. 

Vídeo explica por que você deve 'aprender a tossir'

Mitos e verdades sobre o vírus

Nas redes sociais, a propagação da COVID-19 espalhou também boatos sobre como o vírus Sars-CoV-2 é transmitido. E outras dúvidas foram surgindo: O álcool em gel é capaz de matar o vírus? O coronavírus é letal em um nível preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar várias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS não teria condições de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um médico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronavírus.

Coronavírus e atividades ao ar livre: vídeo mostra o que diz a ciência

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