Jornal Estado de Minas

Ato de solidariedade

Número de cadastros para doadores de medula óssea cai no Brasil diante da pandemia de COVID-19

 

A pandemia do novo coronavírus tem inúmeros reflexos, muitas vezes não tão evidentes. Muita gente tem receio de ir a clínicas médicas, pronto atendimentos e hospitais, lugares de mais fácil exposição ao vírus. A insegurança sobre a infecção também faz com que pessoas pelo mundo todo deixem de lado o tratamento de diferentes doenças, mesmo em caso de patologias graves. No Brasil, um do efeitos negativos da escalada da COVID-19 é a queda no engajamento em ações fundamentais, como a doação de sangue e medula óssea.

No país, são 850 os pacientes que precisam do transplante, sendo 5.199.915 doadores cadastrados. São dados do Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea (Redome). A possibilidade de localizar um doador compatível é de 88% na fase preliminar da busca e, ao fim do processo, de 64%. A preocupação acontece porque o número de cadastros para doadores de medula óssea diminuiu durante a pandemia.



Um entrave importante para encontrar uma medula compatível com o paciente passa pelo fato de que o Brasil é um país miscigenado. É o que explica o coordenador do serviço de hematologia e do serviço de transplante de medula óssea do Hospital Felício Rocho, em Belo Horizonte, Guilherme Muzzi. "A compatibilidade é de origem genética. Assim, quanto maior a miscigenação, maior a variedade populacional e, consequentemente, maior a dificuldade para se encontrar um doador", esclarece.

Situada na porção interna das extremidades dos ossos longos, bacia e crânio, a medula óssea responde pela produção dos glóbulos vermelhos, brancos e plaquetas e, desta maneira, é também chamada fábrica do sangue. O transplante é o tratamento mais efetivo no enfrentamento de mais de 80 enfermidades que afetam as células originadas na medula. Na lista de transtornos, leucemia, anemia aplásica e deficiência grave da imunidade são os principais exemplos.

 

PROCEDIMENTOS
São dois os tipos de procedimentos para realizar a coleta para o transplante, como explica Guilherme Muzzi. Um é feito com a remoção da medula diretamente da veia. "O doador, durante cinco dias, toma um medicamento para estimular as células tronco da medula a se misturarem com o sangue, que aí é coletado por uma máquina, em pequena quantidade. Em seguida, é filtrado para retirar apenas essas células", afirma.





O outro processo parte da coleta do sangue por meio de intervenção cirúrgica. O doador é anestesiado e se submete a punções na bacia, para que sejam retiradas as células tronco diretamente de lá. "A indicação de qual método será escolhido para fazer a coleta da medula é do médico", diz Guilherme Muzzi.

Seja qual for a opção escolhida, o doador passa por, ao menos, três etapas. A princípio, deve comparecer ao hemocentro para coletar uma uma pequena amostra de sangue e preencher os dados cadastrais. A amostra, a partir daí, é submetida a uma análise de compatibilidade e as informações são encaminhadas para o banco de dados do Redome, onde, diariamente, são confrontadas com os dados de pacientes que precisam do transplante.

Depois, o segundo passo só acontece se os dados cruzados acusarem a compatibilidade. Em caso afirmativo, o doador é comunicado e perguntado se realmente dará prosseguimento à doação. Com uma reposta afirmativa, é levado para a coleta de uma nova amostra de sangue, a fim de reforçar a compatibilidade. Se assegurada, parte para avaliação médica e, finalmente, na última etapa, ocorre a doação propriamente dita.

Guilherme Muzzi pontua que a doação de medula óssea é um procedimento seguro. "Os que tiveram a medula retirada diretamente da veia podem voltar às atividades normais no dia seguinte à coleta. Já os que passaram pelo procedimento cirúrgico precisam se afastar de suas atividades por uma semana para se recuperar".

Para ser doador, é necessário ter entre 18 e 55 anos, bom estado de saúde, não ter tido câncer e nem doenças autoimunes.