Entre os cerca de 400 postuladores reconhecidos pela Congregação para as Causas dos Santos, órgão do Vaticano responsável pelas canonizações, a maior parte é de religiosos consagrados - padres, frades e freiras. Jovem, discreto, barba por fazer e sempre impecavelmente vestido de modo formal, mas moderno, o italiano Paolo Vilotta é uma notável exceção.
Neste domingo, seu trabalho receberá um reconhecimento. A brasileira Irmã Dulce, cuja causa foi conduzida por ele, se tornará santa, em um processo que é o terceiro mais ágil da história contemporânea da Igreja. Santa Dulce dos Pobres será canonizada apenas 27 anos após a morte, perdendo apenas para João Paulo II e Madre Teresa de Calcutá.
Nascido e criado em Amendolara, cidade de 3 mil habitantes na Província de Cosenza, região da Calábria, sul da Itália, Vilotta, hoje com 37 anos, tornou-se um advogado de santos quase sem querer. Ele cursava História em Roma quando começou a se interessar por hagiografias - as biografias de santos. Logo estava trabalhando com um reconhecido postulador, o padre Paolo Lombardo, frade franciscano.
Em outras palavras, um bom postulador não pode hesitar em descartar processos se julgar que os candidatos não merecem tal reconhecimento. Formalizada pelo Vaticano em junho de 1984, na esteira de uma série de simplificações promovidas pelo então papa João Paulo II para acelerar trâmites de canonização, a função também se assemelha à de um despachante. Ou de um desembargador. É preciso conhecer os corredores da Santa Sé, afinal, para que um processo flua.
Não é fácil conseguir exercer a função.
Casos brasileiros
Em 2009, quando tomou contato com a história de Irmã Dulce, Vilotta ainda era assistente de Lombardo. Quando ela foi beatificada, em 2011, o pupilo assumiu as rédeas do processo. Já estava pessoalmente encantado pela trajetória da religiosa baiana. Em mais de uma ocasião, Vilotta admitiu que se tornou devoto de Irmã Dulce. "Foi uma 'gigante da caridade' e as narrativas sobre sua vida me impressionaram particularmente."
O italiano conta que analisou cerca de 40 testemunhos para compor o processo de Irmã Dulce. Para ele, esses relatos foram a parte mais recompensadora do trabalho. "Ter podido visitar e conhecer várias pessoas que conviveram com ela me ajudou a aprender sobre fatos e episódios de sua vida", comenta. "Sua grande coragem e vontade de ser um exemplo na prática da virtude da caridade é a faceta mais significativa, o que me impressionou."
Esteve no Brasil quatro vezes e sua maneira de trabalhar acabou cativando novos clientes. Das cerca de 130 causas de canonização de figuras brasileiras que atualmente tramitam na Santa Sé, Vilotta é responsável por 50. "Cada uma tem o próprio caminho", diz.
"Neste ano conseguimos obter a venerabilidade do servo de Deus Nelson Santana, uma criança de 9 anos, e veremos em breve a venerabilidade da serva de Deus Carmen Bueno, uma carmelita", exemplifica Vilotta. "Portanto, as causas procedem muito bem e, quando isso acontece, é porque há sempre uma colaboração válida e competente com o autor da causa." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo..