O desemprego na família e a primeira gravidez fez com que Carla Beatriz Damasceno, de 32 anos, mergulhasse em cursos online de confeitaria. Muitas horas na frente do computador depois, abriu o próprio negócio para vender bolos de pote. "Comecei do zero, mas hoje vivo do que aprendi pela internet. Claro, precisa de disciplina e organização. Mas é possível aprender online, sim."
Essa história não tem sido tão incomum. Entre as atividades mais buscadas pelos mais de 8 milhões de microempreendedores individuais no País está a de produção para confeitaria e padaria. Segundo o Sebrae, esse tipo de negócio caseiro aumentou 22% nos últimos 4 anos - e é um dos que têm maior potencial de crescimento.
Rápida pesquisa no YouTube por "cursos de gastronomia" traz uma infinidade de vídeos sobre o tema. Há material gratuito e outros mais estruturados, com apostilas e possibilidade de conversar com os chefs por meio de chats pagos.
Diretor de produtos da EduK (plataforma de cursos online), Emílio Mesquita diz que cursos de confeiteiro e chef estão entre os mais buscados - e os motivos para isso são bem concretos. "Acredito que esse sucesso tenha relação com o potencial de empreendedorismo."
Para a chef e professora do Edu K, Georgia Lousada, especializada em bolos, a vantagem do online é "difundir técnicas que não estariam acessíveis em muitos lugares do Brasil". A chef Patricia Helu, especializada em culinária saudável (vegetariana e vegana), e com mais de 208 mil seguidores no Instagram, também é professora virtual. Para ela, o que também motiva a pessoa a ver a aula de culinária "é a preocupação com o próprio corpo, com aquilo que se come e como esse cuidado pode trazer benefícios à saúde".
Formação
Depois dos reality shows, da glamourização da vida dos chefs e, claro, experiências gastronômicas mais recompensadoras, é natural que as pessoas procurem mais conhecimento e formação sobre o tema. Hoje, além de aulas online, as presenciais também estão em voga - com cursos de um dia, uma semana ou de meses (com temas específicos, como ceviche ou cozinha tailandesa). Quem procura formação mais academicamente estruturada também vai encontrar a possibilidade de graduações e pós.
O Estado visitou a Accademia Gastronomica, em Moema, zona sul. Lá, alunos de confeitaria aprendiam técnicas de como trabalhar com chocolate.
"Claro que programas de TV atraem, mas temos alunos que vieram até por recomendação médica. Gente que aprende a cozinhar para vencer o estresse", diz o coordenador da Accademia Gastronomica, Rosny Gerdes.
São Paulo ainda tem escolas importantes como Wilma Kövesi (com 37 anos no mercado) e o Instituto de Artes Culinárias Le Cordon Bleu (de Paris), aberto em 2018 no Brasil. "Quando minha mãe, Wilma Kövesi, começou com os cursos, o público era diferente. A gente tinha adultos que iriam morar sozinhos e não sabiam cozinhar. Hoje, o ambiente do curso é mais diversificado, com pessoas que têm a culinária como hobby e, eventualmente, querem transformar isso em profissão", diz a coordenadora, Betty Kövesi.
"Temos cursos de curta duração e também módulos mais aprofundados para quem pretende se profissionalizar", diz Patrick Daniel Marie Lucien Martin, o diretor técnico e executivo Le Cordon Bleu São Paulo.
Universidade
Há 20 anos, o País ganhava o primeiro curso superior em Gastronomia, na Anhembi Morumbi. No início, eram só duas cozinhas de aulas práticas. Agora são 17 cozinhas pedagógicas, para chocolataria e panificação e outras aulas. "Hoje a procura por formação mais sólida aumentou muito porque os próprios proprietários de restaurante querem profissionais com mais qualificação e exigem diploma", diz a responsável por criar o curso, Rosa Moraes.
O Senac também tem graduação e pós em várias áreas desse mercado - com parcerias com empregadores. A Universidade São Judas Tadeu está prestes a iniciar uma pós em Gastronomia Brasileira e Cozinha Autoral. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo..