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Estado de Minas

Prefeito (e ginecologista) é afastado por denúncias de abuso sexual

José Hilson de Paiva teria abusado de dezenas de mulheres durante as consultas no Ceará


postado em 15/07/2019 20:00 / atualizado em 15/07/2019 20:25

(foto: Reprodução/Internet)
(foto: Reprodução/Internet)
Ginecologista e atual prefeito de Uruburetama, a 110 quilômetros de Fortaleza, no Ceará, José Hilson de Paiva foi afastado temporariamente de suas funções, nesta segunda-feira, depois de receber denúncias de abuso sexual contra dezenas de mulheres durante as consultas. A reportagem da TV Verdes Mares, exibida na noite desse domingo pelo Fantástico, da Rede Globo, teve acesso a 63 vídeos gravados por Hilson em que ele abusava de suas pacientes na cidade a qual administra e em Cruz, distante 150 quilômetros. 

 

Os vereadores de Uruburetama votaram nesta segunda-feira pelo afastamento do médico e prefeito do município por 90 dias. A população foi ao local pedir votos peloafastamento. A sessão extraordinária - a Câmara se encontra em recesso - contou com a presença de nove dos 11 vereadores. Todos votaram pelo afastamento.

 

A produção da matéria que foi ao ar no domingo teve acesso aos vídeos feitos com, pelo menos, 23 mulheres entre 2009 e 2012, além de dezenas de fotos de partes íntimas das pacientes. A prática, entretanto, ocorria desde 1986 até 2018, de acordo com denunciantes. Nas gravações, Hilson orientava as pacientes a ficar totalmente nuas e realizava procedimentos invasivos com os dedos. Ele também chupava os seios das mulheres e, em algumas, tentava penetração com o pênis.


Em uma dos vídeos, a mulher pergunta o ‘por quê’ do procedimento e o médico responde que o local está muito inflamado, chamando a paciente de bebê. “Ele introduziu algo na minha vagina nessa hora. Ele vai levando na lábia. As pessoas pensam que aquilo ali é normal”, conta. Ela não denunciou o médico e diz que por causa do abuso, há anos, faz tratamento psicológico e psiquiátrico. “Eu me sinto nua e despida, como se a culpa fosse minha”, relata.
 
MARCAS 
Os traumas das mulheres que foram abusadas são expostos na fala delas à reportagem. “Eu era uma pessoa que achava graça do nada, sabe? Agora todo mundo acha estranho, vem falar comigo e eu tô séria. Não consigo mais brincar com ninguém”, diz uma mulher que não denunciou o médico. A vítima conta que só teve coragem de comentar o que aconteceu com o marido e que tinha medo que as pessoas acreditassem no agressor por ser uma pessoa de destaque.

“Eu olhei para o jaleco dele e ele com os genitais de fora. Ele realmente queria penetrar em mim. Hoje estou, aos poucos, buscando força em Deus, tratamento e o apoio da família”, diz outra denunciante, moradora do município de Cruz. Em grande parte dos atendimentos, Hilson colocava as mulheres de costas, encostadas na maca, e, claramente abusando da fragilidade das pacientes, dizia estar realizando procedimentos médicos normais.

Dois profissionais da Associação Médica Brasileira assistiram aos vídeos na íntegra e repudiaram veementemente a prática de Hilson.  “Em nenhum momento da humanidade existe esse procedimento, isso é asqueroso”,  diz o secretário-geral da associação, Antônio Jorge Salomão.  “Não se trata de um médico, trata-se de um monstro”, complementa, chamando as cenas de indescritíveis.

O vice-presidente da Associação Médica Brasileira, Diogo Leite Sampaio, reforça a opinião do colega e secretário da entidade. “Ele está se aproveitando da paciente. Ele não está examinando, procurando nenhum problema. Isso é crime”, afirma. “Não existe um tratamento clínico, muito menos a manipulação que esse senhor, que eu não posso nem chamar de médico, fez com a paciente”, condena.
 
HISTÓRICO 
José Hilson de Paiva tem 70 anos e é ginecologista e clínico-geral, além de atual prefeito de Uruburetama, cidade com cerca de 20 mil habitantes. Ele foi eleito para o cargo pela primeira vez em 1989. Em 1994, o médico foi denunciado por duas mulheres e também recorreu à Justiça, acusando as pacientes de calúnia e difamação. Os casos foram arquivados.

Em 2018, um vídeo flagrou Hilson tendo relações sexuais com uma paciente e o prefeito sofreu pressão da população, sendo denunciado por cinco mulheres. Por outro lado, ele foi defendido pela esposa. “Eu quero saber qual o homem que não trai sua esposa”, disse Maria das Graças Cordeiro de Paiva, prefeita de Uruburetama por dois mandatos consecutivos, eleita em 1996 e 2000.

Na última semana, o prefeito José Hilson de Paiva foi procurado pela equipe de reportagem para se pronunciar sobre os vídeos. Ao sair da prefeitura, o médico foi abordado e afirmou que tudo não passa de “jogada da oposição querendo me derrubar”. 

Ele confirmou que mantinha relações sexuais com pacientes fora do consultório e afirmou não ter feito “nada forçado”. Além disso, Hilson explicou que os casos aconteceram com “umas três pessoas”. Quando questionado sobre os vídeos e fotos feitos por ele, o médico disse que vai consultar seu advogado se defender.

O Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE) confirmou que está investigando o caso e que não vai se pronunciar porque o processo segue em segredo de Justiça. O Conselho Regional de Medicina do Ceará (Cremec) também foi procurado pela reportagem e, em nota, afirmou que não vai “comentar processos envolvendo profissionais porque tramitam em sigilo, por força da ética”.

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