Crianças, com idades entre 10 e 14 anos, influenciam diretamente a opinião de seus pais em relação às mudanças climáticas e aumentam a preocupação deles sobre o tema. O estudo, publicado na revista Nature Climate Change, foi realizado por cientistas sociais da Universidade Estadual da Carolina do Norte, nos Estados Unidos.
A pesquisa constatou também que as meninas são mais eficazes e exercem mais influência nas famílias do que os filhos. Greta Thunberg, uma jovem sueca de 16 anos, começou um movimento internacional de greves de estudantes contra as mudanças climáticas. A iniciativa fez com que Thunberg fosse indicada ao prêmio Nobel da Paz. "Percebi que ninguém estava fazendo nada para impedir que isso aconteça, então, eu precisava fazer alguma coisa", declarou a menina, que começou o movimento Fridays For Future, para pressionar os políticos a lutar contra as mudanças climáticas.
"Acredito que, conforme demonstrado na pesquisa, os filhos têm influência positiva sobre os pais quando são estimulados a desenvolverem pensamento crítico e ampliarem a sua consciência estudando sobre temas atuais e relevantes. Como consequência disso, a convivência familiar vira ambiente para conversas construtivas, compartilhamento de inquietações e possíveis soluções conjuntas para o momento que vivemos hoje. Acredito muito que a construção de uma geração mais comprometida com os desafios que vivemos, como o aquecimento global, começa exatamente na transformação da relação das crianças com a natureza ainda na escola, consequentemente em casa, estimulando o desenvolvimento do pensamento crítico para que essas crianças assumam o protagonismo como agentes de mudança e influenciam seus pais", analisa a fundadora do projeto Força Meninas, Deborah de Mari. A pesquisadora nas áreas de Gênero, Liderança, Habilidades do Século 21 e o Futuro da Educação acompanha esse fenômeno em mais de 70 países.
Sobre o questionamento a respeito da existência do aquecimento global por parte de alguns grupos, Deborah de Mari acredita que o conhecimento, quando bem compartilhado, é capaz de gerar influência positiva e mudança de atitude.
A alta frequência de notícias referentes às mudanças climáticas é suficiente para colocar o assunto em debate na família, na opinião da pesquisadora: "Graças a internet, temas como o aquecimento global viram pauta em todo o mundo e é possível que crianças e adolescentes compreendam a importância de agirem, assim como aconteceu no caso dos jovens da comunidade europeia. Esta ação leva a conversa para dentro de casa e consequentemente traz um ambiente propício à reflexão e mudança de atitude em atos simples, por exemplo, utilizar menos plástico, reciclar o lixo, comer menos carne etc."
A reportagem do E+ entrevistou a fundadora do projeto Força Meninas, Deborah de Mari.
- Existe uma diferença na influência dos pais em relação a meninas e meninos?
Muitos estudos falam sobre a diferença na criação de meninas e meninos. Um estudo publicado em 2017 mostra que as diferenças de tratamento dos pais para meninos e meninas impactam os resultados que eles alcançam na vida adulta. Neste estudo, foi constatado que pais de meninas prestam mais atenção emocionalmente a meninas do que pais de meninos. Nos meninos, a atenção e a linguagem ficam direcionadas aos resultados que este menino alcança e suas potencialidades mais físicas, enquanto nas meninas destaca-se o cuidado e a resposta emocional. Acredito que isto justifica o resultado apresentado na pesquisa de que meninas tiveram maior influência quando falaram com seus pais sobre a importância de nos preocuparmos com o aquecimento do que meninos.
O efeito de passagem proposto acabou sendo verdadeiro: ensinar uma criança sobre o clima em aquecimento muitas vezes gerou preocupações entre os pais sobre o assunto.
- Qual é a origem e o objetivo do projeto Força Meninas?
O projeto Força Meninas nasceu de uma pesquisa que tinha como objetivo identificar quais os fatores que limitavam a formação de mulheres líderes. O objetivo era destacar fatores, além dos que já são conhecidos, como evasão escolar, gravidez na adolescência, questões de raça e situação econômica. Com este objetivo, chegamos a diversos fatores que nascem na primeira infância e vão até a vida adulta, questões emocionais, socioculturais e perspectivas de gênero.
O objetivo do projeto hoje é apoiar meninas e pais e colaborar com a iniciativa pública e privada em programas presenciais e digitais que endereçam estes fatores. Por exemplo, o baixo engajamento de meninas na área da tecnologia. Junto com aUber, temos hoje um programa que está viajando de Norte a Sul do Brasil conscientizando meninas e meninos sobre o fato de que as meninas podem ser o que quiserem e que existiram mulheres precursoras na tecnologia que podem ser fonte de inspiração para meninas e meninos.
- Qual é a sua opinião sobre o papel de liderança que as novas gerações podem exercer no mundo?
Temos visto lideranças jovens nascerem todo os dias, contudo este número ainda é pequeno. Acredito que é importante desde cedo desenvolvermos crianças com a consciência de que todos temos um compromisso com o futuro e que para cumpri-lo precisamos ser agentes de mudança hoje.
O que é o aquecimento global?
As mudanças do clima no passado decorreram de fenômenos naturais. A maior parte da atual mudança do clima, particularmente nos últimos 50 anos, é atribuída às atividades humanas.
A principal evidência dessa mudança atual do clima é o aquecimento global, que foi detectado no aumento da temperatura média global do ar e dos oceanos, no derretimento generalizado da neve e do gelo, e na elevação do nível do mar, não podendo mais ser negada.
Atualmente, as temperaturas médias globais de superfície são as maiores dos últimos cinco séculos, pelo menos. A temperatura média global de superfície aumentou cerca de 0,74ºC, nos últimos cem anos, segundo dados do Ministério do Meio Ambiente..