O Hospital da Criança de Brasília fez no último fim de semana uma cirurgia de 20 horas para separação das gêmeas Lis e Mel, que nasceram ligadas pelo crânio em junho do ano passado. O estado delas ainda é considerado muito delicado, mas, de acordo com a equipe médica, a recuperação das pacientes supera as expectativas. Lis já foi retirada do coma induzido. "Há ainda um longo período pela frente, mas o resultado obtido até o momento é muito bom. Estamos confiantes", afirmou o anestesiologista da equipe, Luciano Alves Fares.
Casos de gêmeos que nascem ligados pelo crânio (definidos pela ciência como craniópagos) são raríssimos. A estimativa é de que ocorra um em cada 2,5 milhões de nascimentos. O diagnóstico da má-formação foi feito ainda na 10ª semana de gestação.
A ideia de fazer a cirurgia de separação vinha sendo trabalhada desde a gestação. Mas a estratégia cirúrgica foi definida apenas no primeiro mês de vida dos bebês, quando exames descartaram o risco de drenagem venosa compartilhada. Isso significava que o sistema venoso de cada uma das gêmeas era independente, o que permitia que a cirurgia fosse feita em apenas uma etapa.
As crianças nasceram com a parte frontal direita ligada uma a outra. Como a distância entre os crânios era muito pequena, foi necessária a realização de fisioterapia e uma série de procedimentos preparatórios para a operação.
A equipe, com cerca de 50 integrantes, enfrentou uma maratona de encontros para planejamento da cirurgia e treinamento dos procedimentos que seriam realizados. Cinco profissionais estrangeiros, ligados ao The Children's Hospital at Montefiore, dos Estados Unidos, que já tinham experiência nesse tipo de caso, foram convidados para acompanhar a operação. A equipe de convidados, três médicos e duas enfermeiras, assistiu a cirurgia.
"O planejamento foi fundamental. Avaliamos todas as etapas, todos os riscos. Ainda há muito pela frente, mas tudo está caminhando como o imaginado", afirmou o cirurgião plástico da equipe, Ricardo Machado Homem. Não há ainda como saber se haverá sequelas nos bebês.
As gêmeas são as primeiras filhas do casal Camila Vieira Neves, de 25 anos, e Rodrigo Martins Aragão, de 30 anos. "Meu sonho é agora levá-las para passear. Fazer coisas simples, que ainda não conseguimos fazer." A expectativa é de que as meninas permaneçam mais 15 dias no hospital antes da alta. O casal mora em Ceilândia, cidade nas proximidades de Brasília. "Ver as duas separadas foi um sonho que se realizou. Uma espera que acabou e a certeza de que a gente ganhou uma guerra. Sabemos que teremos outras batalhas, mas a gente vai vencer."
A cirurgia foi feita em duas etapas, com duas salas de apoio. Equipes também eram distintas.