Dados da Secretaria da Segurança Pública apontam que, desde 2015, ao menos metade dos 645 municípios do Estado de São Paulo já foi alvo de quadrilhas especializadas em ataques a caixas eletrônicos e a bancos. Há quatro anos - quando houve o pico das ações -, o Estado registrava dois desses crimes por dia.
Os bandos fortemente armados costumam repetir a tática para fugir com o dinheiro, segundo apontam policiais e pesquisadores que acompanham esses registros: eles contam com mais de uma dezena de integrantes, frequentemente com fuzis, aterrorizam a cidade, dificultam a perseguição policial e fogem sem ser alcançados.
As cidades do interior, muitas vezes com menos de dez policiais com efetivo total, costumam ser alvo preferencial. Desta vez, os criminosos não contavam que a polícia já monitorava a ação e chegaria com uma tropa especializada em menos tempo. Para combater a recorrência desses crimes, a polícia vem tentando acionar batalhões especializados de forma mais rápida para fazer frente ao poder de fogo dos bandos.
Para o professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) Rafael Alcadipani, o Estado não tem sabido lidar com a situação. "Sempre vamos enfrentar na rua quadrilhas com fuzis, trocando tiro com elas?", questionou.
Para ele, a estratégia tende a causar desconfiança sobre a legitimidade das ações policiais que terminam com tantos mortos, como foi o caso de Guararema.
Há pouco mais de um ano - em 28 de fevereiro do ano passado -, oito integrantes de uma quadrilha envolvida em ataques a caixas eletrônicos foram emboscados e mortos pela Polícia Militar, no distrito de Jardim Egídio, em Campinas. Os criminosos estavam em dois carros roubados e, segundo a PM, seguiriam para Joanópolis, onde usariam explosivos em assaltos a banco.
A informação sobre o possível ataque chegou à PM por meio de bilhete anônimo manuscrito.
Para o ex-comandante da Polícia Militar Benedito Roberto Meira, coronel da reserva, o confronto só acontece quando os suspeitos não se rendem. "Temos hoje 240 mil presos no sistema carcerário. E por quê? Porque levantaram a mão para a polícia e se renderam. Se isso não acontece, vai ter confronto. Eles poderiam ter se rendido, mas decidiram atirar contra os policiais", disse Meira.
Informação
Segundo o oficial, os bandos se mobilizam com base em informações privilegiadas sobre o funcionamento do banco que seria atacado. "Para eles, sair com R$ 30 mil não vale a pena. Eles só montam a logística e atacam quando sabem que tem algo diferente, melhor, uma quantia considerável."
O coronel diz que, mesmo com informação prévia de que o crime ocorrerá, às vezes não há saída a não ser o confronto.