A ação da Polícia Militar paulista que deixou 11 mortos na madrugada desta quinta-feira, 4, em Guararema, se justifica pelo poder de força dos criminosos e pela decisão de não se renderem. Essa é a interpretação do ex-comandante da corporação, o coronel da reserva Benedito Roberto Meira, sobre o caso. O governador João Doria (PSDB) disse que os agentes envolvidos serão homenageados.
"Temos hoje 240 mil presos no sistema carcerário. E por quê? Porque levantaram a mão para a polícia e se renderam. Se isso não acontece, vai ter confronto. Eles poderiam ter se rendido, mas decidiram atirar contra os policiais", disse Meira.
O oficial acredita que o bando tenha se mobilizado a partir de informações privilegiadas sobre o funcionamento do banco que seria atacado. "Para eles, sair com R$ 30 mil não vale a pena. Eles só atacam, só montam a logística quando sabem que tem algo diferente, melhor, uma quantia considerável."
O coronel diz que mesmo com uma informação prévia de que o crime iria ocorrer às vezes não há saída a não ser o confronto.
Agentes das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), batalhão de choque da Polícia Militar, possuem treinamento específico para atuar nessas situação e armamento à altura, aponta Meira. "A Rota pode ter equidade de armamento com os criminosos, que não vêm para brincar. Os agentes portam fuzis calibre 5.56 e ficam preparados para o que acontecer."
Policiais militares mataram 851 pessoas em intervenções ao longo de 2018, número que representou uma queda ante o patamar recorde de 940 óbitos estabelecido em 2017. Relatório da Ouvidoria da Polícia divulgado no ano passado, mostrou que entre os casos de 2017, 74% deles tinham indícios de ação excessiva dos agentes, como tiro pelas costas ou ação contra pessoas desarmadas. Apesar de representar o batalhão que mais mata, a Rota, que frequentemente é acionada para atuar em casos mais graves e contra criminosos armados, foi onde menos se constatou ações excessivas.
Nos dois primeiros meses de 2019, policiais mataram 127 suspeitos. O número é menor do que os 140 mortos no mesmo período de 2018. Nesta semana, a Ouvidoria abriu investigação para apurar 11 casos de letalidade que aconteceram de forma sequencial na capital e em cidades da região metropolitana.
O professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) Rafael Alcadipani, diz que o ideal era que tivesse sido realizado um monitoramento prévio, mas que diante do poder de fogo dos criminosos e pela característica de violência que predomina nos ataques a bancos, a ação policial pode ter sido proporcional.
"Isso não significa que é adequado que um governador celebre isso, incentivando práticas similares", diz. Ele cobrou maior integração entre as polícias e uma atuação predominante da Polícia Civil para que investigações consigam desmantelar quadrilhas antes desses ataques se tornarem iminentes. "Tem que ser debelado antes de chegar nesse estágio", aponta..