"Os alunos chegaram na escola com a tragédia de Suzano em mente. Nós, professores e funcionários, também. Juntos, temos que encontrar uma forma de lidar com que aconteceu", diz Washington Luis Falcão, diretor do colégio estadual Ângelo Bortolo, na zona norte de São Paulo. O massacre que deixou dez mortos fez com que escolas públicas e particulares se mobilizassem para pensar em práticas pedagógicas e medidas de segurança para tranquilizar alunos, pais e educadores.
O secretário estadual da Educação, Rossieli Soares, disse na quinta-feira, 14, que os procedimentos de segurança de todas as 5,3 mil escolas da rede serão reavaliados e que já iniciou um mapeamento para identificar as unidades de ensino "mais vulneráveis". A pasta também planeja uma ação para que todos os colégios tenham atividades para discutir o tema em sala de aula. "Precisamos de mais diálogo e conversa", disse Soares.
Na quinta, as aulas na escola Ângelo Bortolo começaram com uma roda de conversa em que os professores perguntaram aos alunos o que sentiram ao saberem das mortes em Suzano. "Percebemos que os alunos têm medo de estar no colégio.
Depois da conversa inicial, foi proposto aos alunos que pensassem no que falariam para as famílias e alunos envolvidos na tragédia e para que propusessem caminhos para evitar que violências desse tipo ocorram novamente. "Precisamos ajudar esse jovens a entender e expressar seus sentimentos. Eles se sentem sozinhos, esquecidos, especialmente os adolescentes da periferia. Temos de mostrar que não estão. Essa é a única forma de evitarmos massacres como este", diz Falcão.
Cláudio Oliveira, orientador do colégio Humboldt, em Interlagos, na zona sul, disse que vários professores já o procuraram para informar que querem trabalhar o episódio em sala de aula para sensibilizar os estudantes.
Maria Zélia Miceli, gestora dos colégios Santa Amália, na Saúde e no Tatuapé, zonas sul e leste da capital, contou que, ainda no dia do ataque, foi procurada por pais de alunos preocupados com os protocolos e instrumentos de segurança das unidades. "Eles não estavam desesperados, mas queriam se certificar de que os filhos estão em ambiente seguro. Perguntavam, por exemplo, como é o registro de entrada e saída de pessoas da escola, até que horas o portão fica aberto, quem vigia."
Ela explicou que tranquilizou os pais quanto à eficiência da segurança da unidade e ainda reforçou que a questão vai além. "A única forma de garantirmos que a violência não vai adentrar os nossos muros é preparar os alunos para viver em harmonia e com respeito", disse.
Arthur Fonseca, presidente da Associação Brasileira de Escolas Particulares (Abepar) e diretor do colégio Uirapuru, em Sorocaba, disse ter recebido e-mails de pais preocupados com a segurança dos filhos. Para ele, a orientação para os colégios é de que não tentem esconder ou evitar o assunto com os estudantes e as famílias. Também lembrou que o episódio é uma oportunidade para repensar as medidas de segurança, avaliar se há alguma fragilidade e revisar procedimentos já adotados.
Armas
O secretário estadual também refutou a ideia de dar armas a professores para resolver a violência escolar.
Na terça-feira, o senador Major Olímpio (PSL-SP) defendeu o decreto que flexibiliza a posse de armas no País. Segundo ele, se algum funcionário do colégio estivesse armado, a tragédia poderia ter sido menor. O presidente americano Donald Trump também já defendeu treinar e armar professores para evitar massacres em escolas.
"Tivemos tragédias desse tipo dentro de igreja e cinema. Vamos ter de colocar arma na mão do padre e do cara que controla a entrada no cinema?", questionou Soares.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo..