A multidão que lota grandes avenidas no entorno de trios elétricos, como foi o caso da Tiradentes ontem, já se tornou imagem corriqueira no carnaval de São Paulo. Enquanto os megablocos despontam e outros querem crescer cada vez mais, há quem adote estratégias para evitar um aumento do público e manter a "essência".
"A gente quer manter a tradição do carnaval da Barra Funda (zona oeste), um dos berços do carnaval paulistano", explica a artista Paula Flecha Dourada, de 42 anos, fundadora do Agora Vai. Com as cores roxa e amarela, o bloco desfila com marchinhas autorais, hoje raridade na folia paulistana, e completa 15 anos em 2019.
O cortejo, que sai hoje, deve atrair de 5 mil a 8 mil participantes. "Tinha pouco carnaval de rua na cidade (quando começou). Entre o oitavo e o 11.º desfile, ficou bem inflado. Como agora tem bastante opção, voltou a uma estabilidade", diz Paula.
Da Vila Madalena, na zona oeste, o Chega Mais até se questionou o porquê de não ter crescido tanto, mas agora abraça a ideia. "O nosso público é formado por pessoas que talvez não gostem de blocos muito cheios. Os foliões são mais velhos, vão com os filhos", diz o administrador Eduardo Perdigão, de 38 anos, um dos fundadores.
Em 2018, atraiu cerca de 1,5 mil pessoas e Perdigão garante que "todo mundo cantava todas as músicas".
Originalmente da Vila Madalena, o Me Lembra que Eu Vou deixou o bairro em 2017, quando estreou na Avenida Faria Lima, em Pinheiros. "Vários têm saído, porque não cabem mais lá", diz José Cury, um dos fundadores e integrante do Fórum Aberto dos Blocos de Carnaval SP. "Sair da Vila Madalena foi um ato de respeito ao bairro, pois o número de foliões que procuravam nossos desfiles ficou insuportável para as ruas pequenas do bairro." Curiosamente, o Me Lembra que Eu Vou já teve de mudar de novo de endereço, e neste ano, uma vez que a violência fez o Largo da Batata ser vetado pela Prefeitura para os desfiles.
Outro grupo que já considera que cresceu o suficiente é a Confraria do Pasmado. "Acho que todo bloco - que não começa motivado em ser um megabloco - passa por esse dilema. Quando a gente começou, praticamente não tinha carnaval, a última preocupação era ficar grande demais", lembra o cineasta Eduardo Piagge, de 35 anos, um dos pioneiros.
Ele conta que a agremiação chegou a apostar no crescimento até 2017.
O Pasmado tem dois desfiles, um deles voltado ao público infantil. Uma das estratégias para não crescer é começar cedo, ainda pela manhã, assim como não investir tanto em divulgação. Outra é a localização: quando cresceu, saiu da Vila Madalena para a Faria Lima e, há dois anos, mudou para a Rua dos Pinheiros para evitar multidões.
Sem trio
Estreante em 2018, o Filhos de Gil atraiu cerca de 10 mil pessoas no ano passado.
Já o Bloco Pilantragi decidiu divulgar o endereço do cortejo pouco antes do desfile que fez no pré-carnaval, no dia 24. "Fazemos carnaval o ano todo", justificou a agremiação nas redes sociais. O Vai Quem Qué, por sua vez, trocou Pinheiros pelo Butantã e a Vila Anglo, também na zona oeste, com quatro desfiles. "A região de Pinheiros se tornou ao mesmo tempo uma área dos super eventos - dos grandes blocos e das marcas financiadoras - e também um lugar de conflito de interesses. Nós nos sentimos mais à vontade em locais em que a vizinhança acolhe o bloco", justificou nas redes sociais. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo..