Fundador do movimento Pedala São Paulo, o empresário Sérgio Zolino, de 51 anos, utiliza a bicicleta como meio de transporte desde os 16 e, em todo esse tempo, nunca teve facilidade para estacionar a bike em locais seguros em São Paulo. Sobe o elevador com ela, entra com o transporte em reuniões, deixa a bike na recepção dos prédios. Em paraciclos públicos, ele não confia.
"O lugar para estacionar a bicicleta é uma demanda que existe há 120 anos, desde que ela foi criada", diz. "Já deixei de participar de reunião exatamente para discutir assuntos de mobilidade porque o prédio, por ironia, não tinha bikepark. Peguei a bicicleta, entrei na reunião, relatei o ocorrido, pedi desculpas e fui embora."
Ciclistas como Zolino, que têm dificuldade para estacionar a bicicleta em locais seguros na capital paulista podem começar a vislumbrar uma solução para o problema. Um aplicativo que vai conectar ciclistas e os tradicionais estacionamentos para carros entrará em fase de testes na segunda quinzena de março. Na primeira etapa, 50 ciclistas serão convidados a testar, por até três semanas, cinco estacionamentos na região da Vila Olímpia, na zona oeste da cidade.
A expectativa é expandir os estacionamentos em abril para as avenidas Berrini e Brigadeiro Faria Lima, na mesma região. Pelo menos 80 estacionamentos e garagens, desde aquelas de rua até os de prédios comerciais, já foram mapeados pelo Bike & Park, aplicativo que quer entrar em pleno funcionamento até maio.
A proposta é disponibilizar nos estacionamentos uma área isolada com paraciclos em formato de U invertido dentro, cujo acesso só será possível por QR Code. Os ciclistas devem levar os próprios cadeados. Também está sendo estudada a instalação de pontos de recarga de baterias, para o caso de bicicletas e patinetes elétricas.
Zolino bem que já tentou também criar bicicletários dentro dos estacionamentos de carro. Na época, em 2012, o custo por hora seria de R$ 1. Ele chegou a desenvolver um projeto que acabou não saindo do papel. "Não tinham a visão de que havia esse mercado. Só em uma vaga de carro, você para 20 bicicletas.
Mas a ideia do fundador do Bike & Park, Daniel Kohntopp, é diferente: ele não quer tirar vagas dos carros. A ideia é criar um espaço segregado, como embaixo de rampa ou em uma vaga com pilastra onde nenhum automóvel estaciona.
"A grande dor no sapato dos estacionamentos é a questão do seguro, que atualmente não cobre as bicicletas, somente os veículos. Então, o seguro se recusava a aceitar ciclistas devido a essa cobertura do seguro e também por não ter nenhum tipo de cadastro desse ciclista", afirma.
Seguro
A ideia do aplicativo é que, ao realizar o cadastro pessoal e também da bicicleta, o usuário tenha seguro antifurto e antirroubo. "O diferencial é o seguro em si. Enquanto o ciclista estiver usando o estacionamento, estaremos oferecendo seguro para bicicleta em caso de furto ou roubo que consegue cobrir o valor da bicicleta dele", explica.
O usuário terá à disposição três tipos de plano, de acordo com a utilização mensal da bicicleta: aço (mensalidade de R$ 5 + horas do estacionamento), alumínio (mensalidade de R$ 18 + horas do estacionamento) e carbono (R$80 para horas ilimitadas).
A inspiração para a criação do aplicativo surgiu da própria dificuldade de Kohntopp, que é ciclista.
O ciclista e empresário defende que os estacionamentos e garagens podem funcionar melhor perto de parques públicos, onde, segundo ele, há muitos relatos de furto. Para Zolino, com as bicicletas dockless e os patinetes, a demanda do ciclista que tem bicicleta e sai de casa com ela deve diminuir. "Quem quer ter uma bicicleta de verdade para chegar a algum lugar, muitas vezes sobe com ela para o escritório e deixa ao lado da mesa", afirma.
Mesmo assim, ele acredita em uma mudança de costumes a médio prazo. "As mudanças vão acontecendo a cada dia um pouco. Não é algo cultural do paulistano. Com o transito caótico da cidade, cada dia vai ser mais necessário", afirma.
Para Carolina Edelstein, da Coopark, ferramenta de contratação de vagas de estacionamento para motoristas, o número de usuários ciclistas na plataforma ainda é baixo, mas a expectativa é que aumente nos próximos 3 meses diante do boom dos equipamentos de micromobilidade na capital. "Um ano atrás, não tinha conversa. Hoje, por conta do déficit do estacionamento, considerando que o mercado está indo mal, as empresas estão começando a abrir a cabeça", diz.
Segundo ela, o crescimento do uso de aplicativos de transporte prejudicou o mercado de estacionamentos, que viu seu faturamento cair com a redução do número de carros nas ruas. "O mercado deixou de arrecadar muito. Agora, um novo mercado para eles esse das bicicletas", diz.
A estimativa da Coopark é que hoje em São Paulo a cada 100 estacionamentos e garagens, um tenha bicicletário. Para ela, a incorporação de bicicletários em estacionamentos deve ocorrer a médio prazo. "Vai depende se as grandes redes estarão dispostas a entrar nesse mercado. Acredito que vai levar um tempo.".