Quem vai com certa frequência à farmácia já percebeu que existem medicamentos de referência, genéricos e similares. No final das contas, a principal diferença entre eles está no preço e isso também vale para os remédios biológicos, que podem custar até R$ 10 mil por mês para um tratamento.
Produzidos a partir de organismos vivos, células ou bactérias, os medicamentos biológicos são utilizados para tratar doenças mais complexas, como o câncer. Além disso, eles são mais eficazes do que os sintéticos e reduzem possíveis efeitos adversos. Algumas vacinas, como a da febre amarela por exemplo, são biológicas, uma vez que são produzidas utilizando o próprio vírus atenuado da doença.
"Os biossimilares também são biológicos, mas não foram os inovadores. Eles utilizam o medicamento de referência como base, são produzidos por uma célula, segue todo o processo produtivo, mas não têm todos os estudos pré-clínicos, como se fosse invenção", explica a farmacêutica Márcia Bueno, diretora de relações institucionais da Libbs.
A empresa inaugurou a Biotec no Brasil em 2016, uma indústria onde estão sendo produzidos seis remédios biossimilares. Entre eles, está o composto trastuzumabe, que foi aprovado simultaneamente pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e pelo FDA (agência regulatória dos Estados Unidos). Ele é indicado para o tratamento de câncer de mama inicial e avançado, além de câncer gástrico metastático.
"A importância dos medicamentos biológicos é que, com o avanço da biotecnologia, consegue-se determinar, dentro do tumor, qual caminho usar para obstruir o crescimento das células . Com esse avanço, as doenças serão cada vez mais tratadas com esses medicamentos", afirma a especialista.
Além disso, a existência do biossimilar atua na quebra de monopólio das empresas produtoras dos medicamentos de referência.
Para lembrar o Dia Mundial de Combate ao Câncer, celebrado nesta segunda-feira, 4, o E+ conversou com Márcia Bueno para entender o que são os remédios biológios e os biossimilares e as diferenças entre eles. Confira a seguir:
O que são os remédios biológicos e biossimilares e qual é a diferença entre eles?
Nos biológicos, a fonte de produção é biológica. Normalmente, são produzidos por células ou bactérias. Entre a classificação dos medicamentos biológicos, tem os anticorpos monoclonais - que são proteínas que vão reagir dentro do organismo com um receptor específico. Os biossimilares são biológicos, só que não foram inovadores, mas utilizam o medicamento de referência . Também são produzidos por uma célula, seguem todo o processo produtivo, mas não têm todos os estudos pré-clínicos como se fosse invenção, já partem de uma molécula pronta.
O biossimilar é exatamente igual ao biológico de referência ou pode haver mudanças?
Para produzir um biossimilar, tem de seguir a mesma sequência genética do remédio inovador.
O que torna os remédios biológicos mais eficazes é justamente o uso de células vivas?
Sim, é isso que se busca: ser eficaz e diminuir evento adverso. Se o medicamento é autodirigido, ele vai reagir só com a célula do tumor e reduzir o impacto nas outras. Quando não são autodirigíveis, têm efeitos adversos grandes. A busca incessante é ter uma terapia que tenha a menor dose com a eficácia desejada. O comparativo é com a quimioterapia: é eficiente, mas atinge várias outras células, não é autodirigida, por isso a mulher perde cabelo, tem náusea. O que se busca são novos medicamentos para diminuir isso.
Os biológicos são medicamentos caros. Os biossimilares também são?
Biossimilares são novos no Brasil e no mundo.
Qual é a possibilidade de expansão dos biossimilares para o sistema público? Depende da doença?
A inclusão na lista do Sistema Único de Saúde, quando é medicamento de referência, na maioria dos casos já tem. Dependendo da doença, ou a compra é concentrada no Ministério da Saúde ou nas secretarias . O biossimilar pode entrar pela vantagem do preço.
Os biossimilares têm um processo de registro mais longo e complexo do que os demais remédios?
Na preparação completa de um biossimilar, o tempo de desenvolvimento é muito maior do que outro remédio sintético, assim como o biológico novo . Depois que entra com dossiê, pedindo o registro na Anvisa, o tempo de análise é o mesmo. A Anvisa tem um ano para responder.