O serviço de um catamarã para reduzir a espera na travessia entre São Sebastião e Ilhabela, que estreou no sábado, 19, reduziu o tempo na fila da balsa entre os municípios paulistas, mas gerou uma preocupação extra à prefeitura da ilha, no litoral norte de São Paulo. "Já percebemos que vai agravar a questão da mobilidade no interior da ilha, ou seja, soluciona um problema, mas cria outro", disse o secretário de Turismo e Desenvolvimento Econômico de Ilhabela, Ricardo Fazzini.
O catamarã foi colocado como reforço no serviço de balsas pela Secretaria de Logística e Transportes do Estado depois de muita reclamação de visitantes e moradores sobre a espera na fila, que, no final do ano, chegou a 7 horas.
O Ministério Público Estadual entrou com ação contra a Dersa - Desenvolvimento Rodoviário S.A., estatal que administra o serviço, exigindo a colocação de mais balsas para reduzir a demora na travessia. No dia 17, a Justiça deu prazo de 15 dias para que a Dersa mantenha ao menos sete balsas em operação nos períodos de pico.
De acordo com Fazzini, a espera, que era de 4 horas na sexta-feira, 18, caiu para pouco mais de uma hora no sábado. Ele ressalva que, normalmente, o movimento no sábado é menor que o da sexta, quando chega a maior parte dos turistas. "Temos de esperar o próximo fim de semana, com o feriado em São Paulo, na sexta-feira, pelo aniversário da cidade, para termos uma noção melhor", disse.
O catamarã, que só leva pedestres e ciclistas, transportou 1.198 pessoas em 14 viagens, média de 85 por viagem, bem abaixo da capacidade de 370 pessoas. As sete balsas que operam o serviço trabalharam com folga.
Conforme o secretário, a retirada de parte dos pedestres das balsas aumenta em 25% a capacidade para o transporte de veículos para a Ilhabela. Com mais carros e mais turistas, a circulação interna pode se tornar caótica, segundo ele. "Temos uma frota interna de 8 mil veículos, mas chegamos a receber outros 27 mil em feriados. Se enfileirar todos, dá 600 quilômetros. No Réveillon, por exemplo, para uma população de 40 mil, recebemos mais 170 mil pessoas", contabiliza.
A exemplo de outras cidades praianas que adotaram restrições ao fluxo intenso de turistas, a prefeitura de Ilhabela vai contratar um estudo com a proposta de soluções para melhorar a mobilidade.
Conforme a Dersa, nos primeiros quatro meses, o serviço do catamarã será gratuito. Uma segunda embarcação do mesmo tipo está sendo reformada para se juntar à frota, mas o início das operações ainda não tem data. O departamento informou que está reformando uma oitava balsa, com capacidade de 40 veículos, para compor o serviço.
A empresária Luciana Della Mora, de Sorocaba, cuja família tem casa em Ilhabela, espera que a melhoria no serviço de balsas aconteça para valer. Em 21 de dezembro, ela esperou 4h40 na fila, com o marido e a filha de oito anos no carro. A espera, sob calor intenso, e a constante abordagem de vendedores ambulantes, deixaram a família traumatizada.
A empresária Sílvia Duarte, de Sorocaba, que estava em Ilhabela neste domingo, disse que o catamarã não ajudou muito para quem vai de carro. "O barco melhorou para quem vai a pé, pois o pedestre vai em condição melhor do que ia na balsa, exposto ao tempo. Para quem vai de carro, continua a fila, mesmo para quem tem hora marcada. Há a preferência para pessoas idosas e crianças. Caminhões também passam na frente. É, no mínimo, três horas de fila. Um amigo nosso chegou na sexta-feira e foram três horas e meia. Na saída, hoje (domingo) gastou duas horas."
Segundo Sílvia, que frequenta Ilhabela há mais de uma década, a situação já foi pior.