Aos poucos, Fortaleza vai retomando a rotina. A movimentação no comércio aumentou, a frota de ônibus circulou com mais veículos e a espera dos passageiros diminuiu. Nas penitenciárias, até o momento, 21 detentos considerados lideranças nas facções criminosas foram enviados para a penitenciária federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte. O plano é que, ao todo, 60 presos sejam transferidos.
A estratégia de atacar estruturas públicas e privadas e incendiar coletivos, comumente usada pelos detentos para pressionar o governo a recuar, por enquanto não surtiu efeito. Um agente penitenciário que preferiu não se identificar relatou que o secretário da recém-criada pasta de Administração Penitenciária do Estado, Luís Mauro Albuquerque Araújo, mandou retirar todas as tomadas das celas, para evitar que os aparelhos celulares sejam carregados e o uso de televisões e ventiladores, que também foram recolhidos. Segundo o agente, os próprios presos estão pintando as unidades e apagando as pichações.
Especialista em gestão penitenciária, Araújo é da Polícia Civil do Distrito Federal.
O presidente do Sindicato dos Agentes Penitenciários do Ceará (Sindasp-CE), Valdemiro Barbosa, afirmou que toda a estrutura penitenciária foi alterada, e ele destaca a questão da retirada das celas. "Antes o preso não era isolado. Ele tinha toda condição de se comunicar pelo celular. Sem as tomadas, a restrição do que as famílias dos internos podem levar para eles também vai ajudar muito na segurança. Na nova doutrina implementada no sistema penitenciário, não existe 'preso liderança', todos são iguais", afirmou.
Barbosa afirma que desde 2012 alertava sobre o início da organização dos presos. "As coisas pioraram demais de 2012 até agora. Porém, essas transferências devem melhorar a situação. Pelo menos 13 cadeias públicas que estavam em situação precárias já foram fechadas. Eram equipamentos que não tinham mais a menor condição de custodiar ninguém."
Entre as demandas históricas dos agentes penitenciários estão o acautelamento de armas aos agentes e a contratação de novos profissionais, para diminuir o déficit estimado de 3 mil profissionais, que são consideradas urgentes e poderiam ajudar a manter a ordem nas penitenciárias.
Segundo um policial especialista em Inteligência da Secretaria de Segurança Publica e Defesa Social que preferiu não se identificar, apesar da sensação de insegurança ainda ser grande entre a população, a situação está melhorando e as grandes facções já não estão mais se envolvendo nos ataques. Quem continuaria cometendo os ataques é a facção Guardiões do Estado (GDE), que tem um controle descentralizado e nunca teve um plano traçado, organizado, como os grupos criminosos de São Paulo ou do Rio..