A segunda fase da Fuvest, vestibular que seleciona para a Universidade de São Paulo (USP), teve questões de Língua Portuguesa com textos de Karl Marx, Chico Buarque e tirinha de Laerte. Já a prova de redação pediu que estudantes escrevessem sobre a "importância do passado para a compreensão do presente". O exame foi elogiado por professores por seu caráter "contemporâneo". A última etapa da Fuvest continua nesta segunda-feira, 7, com questões específicas de acordo com a carreira escolhida.
Alguns dos temas das perguntas de Português foram patriarcado, ditadura militar e racismo. O texto de Karl Marx foi usado para discutir a figura histórica da mulher no capitalismo. Os candidatos também tiveram que analisar o gênero discursivo da letra da música "Meu Caro Amigo", de Chico Buarque, que retrata um momento da ditadura militar. A tirinha da cartunista Laerte expunha problemas com burocracia.
Para Gabriela Carvalho, coordenadora de Redação do Curso Poliedro, a prova testou o conhecimento dos alunos. "A Fuvest, mais uma vez, não se eximiu do papel político que tem. Foi uma prova muito bem elaborada, que testou a capacidade de interpretação, não apenas do que está lendo, mas do mundo em que vive. A Fuvest trouxe questões menos conteudistas."
Redação. Para a proposta de redação, a Fuvest desenvolveu o tema com textos que falavam sobre o incêndio no Museu Nacional do Rio de Janeiro, o progresso na história da sociedade e sobre a memória da humanidade e uma imagem da escultura "Amnésia", que retrata um menino negro jogando um balde de tinta branca na cabeça. Para professores de cursinho, a prova não trouxe surpresas.
Eva Albuquerque, professora de redação do Cursinho da Poli, afirmou que a proposta da redação é "contemporânea" e não deve ter trazido dificuldades para os candidatos.
Para Gabriela Carvalho, a Fuvest aproveitou um tema "relativamente esperado" pelos candidatos - o incêndio do museu, que já havia sido usado na primeira fase do vestibular do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) - para propor uma reflexão sobre uma situação mais ampla e contemporânea que a sociedade brasileira vive.
Alguns candidatos, no entanto, relataram ter se surpreendido com o tema. No texto, eles se dividiram entre citações de exemplos históricos. A estudante Geovanna Gabriela de Jesus Barbosa, de 17 anos, citou a relação entre o impacto da escravidão para o racismo atual. Ela quer cursar Gestão de Políticas Públicas. "Achei difícil porque era muito aberto e podia fugir muito fácil do tema."
Já Gabriel Afonso, de 19 anos, citou a queda do Muro de Berlim e a preservação de pedaços da estrutura até hoje como forma de lembrança histórica.
Natália Santos, de 18 anos, diz que aproveitou o tema para cobrar as autoridades. "Foquei no caso do incêndio que destruiu o Museu Nacional, para cobrar que os governantes valorizem mais nosso passado e a cultura. É algo que está faltando."
Segundo a Fuvest, foram convocados 35.371 candidatos para essa etapa, quantidade 62,3% maior do que em 2018. O primeiro dia de exame apresentou um índice de abstenção de 7,7%. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo..