O médium João de Deus, preso desde o dia 16, prestou depoimento nesta quarta, 26, no Ministério Público de Goiás, e disse que "não se lembra" das mulheres que o denunciaram por abuso sexual. Durante uma hora e meia, promotores de Justiça o questionaram especificamente sobre três casos - dois de violência sexual mediante fraude e um de estupro de vulnerável. Os promotores leram pausadamente a João de Deus os relatos das mulheres.
"O sr. se lembra disso?", perguntaram ao médium.
"Não, absolutamente isso não acontece, não é verdade", negou João de Deus.
João de Deus está preso no Complexo Penitenciário de Aparecida de Goiânia. Por volta de 10h15 desta quarta ele chegou à Promotoria para depor sob escolta de forte aparato policial. Antes do depoimento, os promotores deram acesso à defesa aos autos da investigação.
Para o criminalista Alberto Zacharias Toron, que defende o médium, é justificável que ele não se recorde do nome das mulheres que o acusam.
"Se você recebe 1500 pessoas por dia e vem uma e fala que em abril ou maio aconteceu isso ou aquilo, por nome é impossível lembrar, obviamente", afirma o criminalista. "Categoricamente, o sr. João negou que tivesse feito qualquer coisa errada."
Segundo Toron, na audiência João de Deus acrescentou que teve um filho por inseminação artificial. Ele disse que o médium "não tem apetite sexual". "Ele se submeteu à operação de câncer, comprovadamente colocou cinco ou seis stents e toma remédio para pressão alta."
João de Deus respondeu a todas as perguntas, segundo Toron.
Toron disse que "foi preparado para orientar seu cliente a permanecer calado". "Mas depois que os promotores permitiram que examinássemos os autos e víssemos os depoimentos tomados conversei com ele (João de Deus) para que respondesse às perguntas."
"Não entendo ainda o motivo de manter o sr. João em prisão preventiva, quando bastaria a domiciliar com tornozeleira. Resolveria todo o problema, tudo o que se quer resguardar. Às vezes tenho a impressão que a prisão preventiva é utilizada como espécie de punição antecipada sem processo, numa verdadeira presunção de culpa."
No depoimento desta quarta, 26, os promotores não perguntaram a João de Deus sobre o dinheiro vivo (R$ 1,6 milhão) e nem das armas ocultas em sua casa.
O criminalista disse que o próximo passo é aguardar eventual denúncia do Ministério Público, o que deve ocorrer até o dia 30. "Se fosse xadrez, eu diria que é a vez de jogar do Ministério Público.".