Mário Guimarães não precisou de muito para começar a ajudar moradores de rua. Colocou a mochila nas costas e, no caminho entre a universidade e o metrô, fornecia atendimento médico às pessoas que viviam em situação de rua no centro de São Paulo. O professor de neurologia da Universidade Anhembi Morumbi já conhecia outras ações de medicina de rua, mas foi durante sua pós-graduação em Harvard que decidiu fazer sua parte aqui no Brasil e criou o Médicos de Rua. "Fiz contato com a pastoral de rua e soube que eles atendiam um número muito elevado de pessoas. Comecei a acompanhá-los e fomos criando esse modelo em escala, em que fazemos um mutirão para atender várias pessoas", conta.
Se no começo havia apenas a participação do próprio médico, hoje já são 70 profissionais envolvidos e mais de 300 alunos do curso de medicina da universidade. Com uma frequência mensal na cidade de São Paulo, a assistência começa com uma triagem realizada pelos alunos, para depois seguir ao atendimento médico especializado. "Temos alunos desde o primeiro ano de faculdade até os alunos do internato, então eles desenvolvem o que têm competência. No primeiro ano, por exemplo, eles já sabem verificar a pressão arterial, fazer anamnese, então é isso que eles vão executar.
Conforme a demanda foi aumentando, consequentemente cresceu também a quantidade de voluntários para ajudar nas ações. "Rapidamente conseguimos nutricionistas, veterinários, advogados, odontologistas, quiropraxistas, psicólogos, assistentes sociais, fisioterapeutas, visagistas e podólogos, além dos médicos e enfermeiros", destaca Elaine. O trabalho desenvolvido pelos veterinários também é de extrema importância, pois contribuem para reduzir zoonoses, doenças de pele dos animais de rua, impedindo a reinfecção de animais e de seus tutores.
O que começou em São Paulo, agora se espalha aos poucos pelo Brasil e já tem planos de chegar ao exterior. "Temos filiais em São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco e também temos ações programadas para a África, em Moçambique", revela a enfermeira.
Entre as histórias emocionantes que conheceram, Mário destaca a de um morador de rua que reencontrou a família após oito anos longe de casa. Ele saiu de Maceió, deixou esposa e filhos, e mudou-se para São Paulo. Em 2014, por causa da crise econômica, foi morar na rua e perdeu tudo - inclusive celular e documentos. Ao conhecer Mário, o médico lhe ofereceu um atendimento com hora marcada no ambulatório da universidade.
Já Elaine traz outro caso de sucesso, o de um senhor que voltou para agradecer pelo atendimento médico. "Ele disse que morava na rua há três anos. Já foi coordenador, teve empresa, tinha uma condição de vida relativamente boa. Quando a esposa faleceu, ele perdeu praticamente tudo, entrou em depressão e teve de ir pra rua", compartilha. Com os cuidados que recebeu e o encaminhamento que teve, as dores decorrentes de uma artrose cessaram..