A dona de casa Damiana Francisco Leandro Alves, de 76 anos, não consegue se conformar com a sequência de fatos que resultaram na morte do marido, o aposentado Heleno Severo Alves, de 84 anos, a quinta vítima da chacina da Catedral, em Campinas. "Logo cedo, ele pegou o rosário, o livro de orações e disse que ia rezar, mas perdeu o circular. Eu falei que era para não ir, que tem coisa que vem por bem, é um aviso. Falei, vai descansar, homem. Mas ele, 'não, eu tenho que ir'. Pegou outro ônibus e foi."
Damiana conta que estava vendo televisão quando ouviu falar do tiroteio na Catedral, onde ele devia estar. "Falaram dos tiros, e já veio um aperto. Quando puseram as imagens, eu já vi ele caído, a perna com a bota, a mesma roupa.
Natural de Juazeiro do Norte (BA), a senhora conta que o marido era pernambucano de Exu. "No dia 25 de dezembro agora, nós íamos fazer 63 anos de casados. Criamos 9 filhos e temos 24 netos e 18 bisnetos. Ele era um beija-flor com os filhos e netos, o que pediam, ele fazia. Agora, resta pedir força a Deus".
A família reside no bairro Morada do Sol, em Indaiatuba, cidade da região de Campinas. "Essa casa é muito grande e ele fez ela todinha", conta o filho Sebastião Severo Alves, de 48 anos, dono de uma de adega em Campinas.
Sebastião conta que Heleno ganhou a vida como pedreiro e construtor. "Ergueu muita obra, aqui e no Paraná, onde moramos quando eu era pequeno. Quando ele fez esta casa, esse bairro não existia, era estrada de chão batido. Era um pernambucano daquele jeitão.