Após meses de negociação e atrasos no cronograma, o Ministério da Saúde divulgou nesta segunda-feira, 26, acordo com a indústria de alimentos e de bebidas para reduzir os teores de açúcar de biscoitos, bolos, produtos lácteos, achocolatados e misturas para bolos. A meta é retirar 144 mil toneladas do ingrediente nesses produtos nos próximos quatro anos.
O número sozinho é alto, mas representa 2% do uso de açúcar pela indústria no preparo nas categorias dos alimentos que fazem parte do acordo. Neste primeiro momento, a iniciativa vai envolver 68 empresas - 87% do mercado brasileiro nessas categorias. A exemplo do acordo de redução de sal, também feito pelo governo com a indústria, a meta não significa que todos os produtos terão mudança na fórmula. Mais da metade (52,1%) já cumprem os indicadores fixados no acordo. De um universo de 2.397 produtos, 1.147 terão de mudar a fórmula.
A meta pouco ousada é explicada pelo ministério. A ideia foi fazer uma média do emprego de açúcar nos produtos e, com base neste cálculo, definir a redução.
Coordenadora de Alimentação e Nutrição da pasta, Michele Lessa emendou: "O ministério recomenda que a população consuma, em sua maioria, alimentos in natura ou minimamente processados". Mas, segundo ela, boa parte da população usa produtos processados. "E essa agenda é para reformulação, para que se tornem um pouco mais saudáveis", completou.
Foi só este ano que a secretária Lilian Kamada, de 43 anos, começou a ficar atenta aos rótulos. Isso foi incentivado pela filha Julia, de 11 anos. Aluna do Colégio Santa Maria, na zona sul paulistana, ela aprendeu na escola sobre a importância de observar os elementos presentes na comida. "O colégio sempre pediu lanches saudáveis e mandávamos.
Salgadinhos e doces foram substituídos por uma dieta equilibrada e saudável e Julia perdeu seis quilos. "Estou gostando. Agora estou comendo frutas e verduras", conta a garota.
Mudança ocorrerá por etapas
Pelo cronograma, empresas terão de fazer a mudança em duas fases, de dois anos cada. O acompanhamento será feito a partir de rótulos e de análises laboratoriais. Empresas que não cumprirem o pacto serão notificadas. Como é voluntário, não há penalidade.
A maior redução será das rosquinhas. A cada 100 gramas de rosquinha, 75 gramas são de açúcar.
Michele Lessa, do ministério, destaca que a redução dos teores de açúcar não será acompanhada da adição de adoçantes ou gorduras, por exemplo. "O açúcar tem outras funções, cor, textura. Mas nossa recomendação foi a simples redução do açúcar, sem acréscimo de outros ingredientes", disse.
Dados do governo indicam que o brasileiro consome 50% a mais de açúcar do que o recomendado pela Organização Mundial da Saúde. Em média, por dia, cada habitante ingere 18 colheres de chá do produto. Na última década, o diabete cresceu 54% nos homens e 28,5%, entre mulheres.
Alexandre Jobim, da Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e de Bebidas não Alcoólicas, afirma que o consumo de refrigerantes no País cai ano a ano. "Não é o refrigerante o causador da obesidade, que é multifatorial." Já Wilson Mello Neto, da Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação, diz que a indústria trabalha pela inovação de produtos.
"Antigamente, o açúcar era associado apenas ao diabete. Hoje, a ciência já sabe que ele está associado a doenças do coração, que estão entre as principais causas de morte", afirma Rachel Francischi, nutricionista da Casa Moara, da Casa Curumim e do Núcleo Cuidar, espaços de atendimento humanizado para mães e crianças..