Preocupado com a possibilidade de acirramento dos ânimos em Roraima, onde há um clima de tensão com a constante chegada de venezuelanos ao país, o presidente Michel Temer decidiu assinar um decreto convocando as Forças Armadas para agir no Estado. A ação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) tem prazo de 15 dias: vai de amanhã até 12 de setembro nas áreas de fronteira do Estado, conforme informou mais cedo a Coluna do Estadão. O decreto será publicado no Diário Oficial da União desta quarta.
O decreto foi assinado mesmo sem um pedido oficial por parte da governadora de Roraima, Suely Campos (PP). Normalmente, é o governo do estado quem solicita a medida extrema. De acordo com o ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Sérgio Etchegoyen, a governadora ignorou as tentativas de contato do Planalto sobre o assunto.
Conforme apurou o jornal O Estado de S. Paulo, a GLO está sendo assinada principalmente para dar amparo jurídico aos militares, apesar de a lei já prever que o patrulhamento de fronteira possa ser feito. A decretação da GLO visa dar mais amparo jurídico para o Exército agir.
No seu pronunciamento, Temer também mencionou que é preciso buscar apoio junto a comunidade internacional mas não detalhou o que faria neste caso.
Temer informou que a decisão foi tomada como complemento às ações humanitárias que já estão em curso na região. Em seu discurso, o presidente fez duras críticas ao governo de Nicolás Maduro e afirmou que a situação vivida em toda a América Latina e no Brasil, principalmente em Roraima, é fruto "das péssimas condições de vida a que está submetido o povo venezuelano".
Etchegoyen classificou a crise de imigração de venezuelanos como a mais grave da história da América Latina e ressaltou que outros países enfrentam situações piores que o Brasil nesta questão.
Ele informou que, em média, entram no país entre 600 e 700 pessoas por dia. Cerca de 20% delas permanecem em território nacional. O ministro ressaltou também que o governo continua agindo para melhorar a interiorização desses imigrantes para reduzir a pressão sobre Roraima.
Sem solicitação
Após o pronunciamento de Temer, o ministro da Defesa, general Silva e Luna, afirmou que "não houve solicitação" da governadora Suely Campos para que as Forças Armadas fossem atuar no estado. Para que as tropas fossem para o estado, por iniciativa local, a governadora teria de fazer um reconhecimento, por escrito, que as forças de segurança do estado não estavam conseguindo cumprir o seu papel.
Etchegoyen foi mais duro e salientou que as tentativas de entendimento com a governadora de Roraima para decretação de GLO no estado foram ignoradas por ela. "A reação (da governadora) até agora tem sido o silêncio e o não reconhecimento de que precisa de ajuda na de segurança pública", declarou. Ele salientou que o Planalto "não cogitou" fazer intervenção federal no estado, como acontece no Rio de Janeiro. Segundo o ministro, a missão de GLO em Roraima inclui que as tropas federais ajam com poder de polícia.
Candidata à reeleição, Suely Campos não quis se desgastar junto à população.
Quando estourou o confronto com a população de Pacaraima contra os venezuelanos, mais uma vez o estado não mandou pessoal para proteger os acampamentos dos estrangeiros, obrigando o Exército a dar esta proteção informalmente, uma vez que havia risco iminente de invasão por roraimenses.
Por enquanto, só o Exército irá atuar na região, segundo informou o Ministro da Defesa. Não haverá deslocamento de tropas de uma cidade para outra. A Brigada de Selva, localizada em Boa Vista, possui mais de três mil homens em suas fileiras e eles já estão empenhados neste trabalho. Anteriormente, o próprio Exército já havia transferido mais de 600 homens para a fronteira, temendo algum tipo de confronto. Com a GLO, eles terão poder de polícia..