O romance Vidas Secas, do escritor Graciliano Ramos (1892-1953), acaba de completar 80 anos de publicação. Ao longo das décadas, a obra tornou-se universal e manteve-se atual. O interior que sofre mergulhado na seca, a falta de oportunidades em um País desigual, as injustiças sociais que se perpetuam e o sonho de imigrar em busca de uma vida melhor permanecem - e não apenas no Brasil. À procura de outras vidas secas, o jornal O Estado de S. Paulo trilhou 450 quilômetros no interior dos Estados de Alagoas e Pernambuco.
O sertão sem nomes de Graciliano é onde se mora sob taipa e, facão a tiracolo, o vaqueiro pisa em ossada de boi. Os sertanejos enganam-se nas contas do patrão e sonham em ter cama de vara. Para comer, aproveitam na panela o papagaio que já morreu de fome. Agora, o sertão é de Pelé e Branca, agricultores, resistentes da seca.
São os personagens que traduzem a atualidade da obra de Graciliano.
Para comentar o legado de Vidas Secas para a literatura, o jornal entrevistou o pesquisador Ricardo Ramos Filho, neto de Graciliano. "Se vivo, seria uma voz que continuaria gritando, ressaltando e colocando em foco as mazelas da vida brasileira, que são muitas e vêm se acentuando", afirma.
'Sentido'
Vidas Secas, a obra que consolidou a imagem de Graciliano Ramos como escritor e intelectual, foi publicada no primeiro trimestre de 1938. Oitenta anos e 137 edições depois, o escritor Ricardo Ramos Filho, neto de Graciliano que se tornou pesquisador da vida e da obra do avô na Universidade de São Paulo (USP), afirma que Vidas Secas é muito mais do que um romance regionalista e que classificá-lo dessa forma é diminuir o seu valor.
O que Graciliano não teve a chance de retratar quando escreveu Vidas Secas?
Por ser um profundo conhecedor da região, Graciliano escreveu um texto decisivo. Poucas coisas deixaram de ser abordadas. Com olhar do presente, o texto continua atual: esse Nordeste e esse sertão não mudaram. Tudo que Graciliano falou continua fazendo sentido: a realidade é a mesma.
Muita gente associa o livro a um retrato da seca, e claro que ele tem essa marca, mas você acredita que essa era a questão central para ele?
Classificar Graciliano como regionalista é diminuir o valor da obra do Velho.
Qual é a falta que um olhar como o do Graciliano Ramos faz para o Brasil de hoje?
Graciliano, se vivo, seria uma voz que continuaria gritando, ressaltando e colocando em foco as mazelas da vida brasileira, que são muitas e vêm se acentuando. Certamente ele seria muito crítico com o governo atual, com a dificuldade que a Justiça tem de ser justa.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo..