Brasília, 30 - O Ministério da Saúde admite haver alto risco de retorno da poliomielite em pelo menos 312 cidades brasileiras - 44 no Estado de São Paulo. O alerta foi feito na quinta-feira (28), em uma reunião com secretários estaduais e municipais de saúde. É uma situação gravíssima, afirmou a coordenadora do Programa de Imunização, Carla Domingues.
Estão na lista de maior risco para pólio municípios que não conseguiram atingir nem 50% da cobertura vacinal. Uma cidade com esses indicadores tem todas as condições de voltar a transmitir a doença em nosso País. Será um desastre para a saúde como um todo. O último caso registrado no Brasil foi em 1990. Quatro anos depois, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a doença erradicada das Américas.
A recomendação é de que a cobertura vacinal contra pólio seja superior a 95%. A situação mais grave é na Bahia, onde 15% dos municípios imunizaram menos do que 50% das crianças, seguido do Maranhão, com 14,29%. Em todo o País, apenas Rondônia, Espírito Santo e Distrito Federal não têm cidades sob risco elevado.
O quadro geral é muito preocupante.
unidades da federação não atingiram a cobertura considerada ideal. Também em 2017 pelo menos 800 mil crianças estavam sem o esquema completo de vacinação - que compreende três doses do imunizante.
Acendemos a luz vermelha, resumiu Carla. A preocupação ganha corpo sobretudo em um momento em que voltou a ser discutida a entrada do poliovírus derivado. Na Venezuela, autoridades sanitárias cogitaram a possibilidade de que uma menina teria sido contaminada por essa mutação do vírus.
Quando a vacina em gotas é dada para a criança, o vírus atenuado contido no imunizante pode ficar presente no ambiente por quatro a seis semanas, criando o que se chama de efeito rebanho. De quebra, a população que tem contato com o vírus atenuado também fica protegida contra a doença.
O problema é que nesse período, em raríssimas ocasiões, o poliovírus pode ter contato com outros vírus, como o rotavírus, sofrer uma mutação e, com isso, criar uma nova onda de infecções. Essa hipótese foi descartada no caso da criança venezuelana, mas a preocupação persiste.
A presidente da Sociedade Brasileira de Imunização, Isabella Ballalai, observa que o risco aumenta nos casos em que a cobertura vacinal é menor. Daí a necessidade de a imunização ser, sempre, mantida em 95%.
Isabella classificou o indicador brasileiro como inacreditável e inadmissível.
Outras doenças.
Carla reforça ainda que as taxas de cobertura vacinal no País caíram de forma expressiva. Parece que estamos retomando à década de 80 com as cobertura vacinais. Como exemplo, ela citou as vacinas tríplice viral (sarampo, rubéola e caxumba), pentavalente (difteria, tétano, coqueluche, meningite por Haemophilus influenzae tipo b e poliomielite) e pneumococo. Não houve desabastecimento em nenhum desses casos, observou.
Para ela, os indicadores mostram a necessidade de se refletir sobre o que está sendo feito na ponta da assistência. Ela observa que o programa de imunização oferta 14 vacinas. É preciso ter simultaneidade. Montar um calendário de forma a ofertar, numa só visita ao posto, mais de um imunizante. No esquema ideal, afirma, os pais levam a criança nove vezes durante o ano ao posto de vacinação. Se isso não é feito da forma adequada, esse número aumenta para 10, 11, 12, observa.
A resistência em dar mais de uma vacina no mesmo dia pelos profissionais de saúde poderia ser resolvida com reforço na capacitação.
Horários.
Para ela, é preciso também maior racionalidade na forma da oferta da vacina, como horários mais flexíveis, que se encaixem na rotina de trabalho dos pais. Postos funcionam das 8h às 11 e das 14 às 17 horas. Não são todos pais que podem levar seus filhos nesses horários várias vezes ao ano.
A abertura de muitas salas de vacina, por sua vez, seria contraproducente. É preciso escala. As doses precisam ser abertas e usadas rapidamente. Caso contrário, há desperdício. As informações são do jornal
O Estado de S. Paulo
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(Lígia Formenti).