Rio, 28 - Construída para ser um dos mais belos cartões-postais do Rio, a Ciclovia Tim Maia, que liga o Leblon à Barra da Tijuca pela orla, está completamente abandonada. Fechada desde 2016 após um desabamento que deixou dois mortos, a ciclovia vem sendo saqueada diariamente. Em contraste com a vista naturalmente irretocável da Avenida Niemeyer, o que se vê hoje é uma estrutura depredada e sem uso, um símbolo fortuito de todas as mazelas enfrentadas pelo Estado.
Os saques começaram em outubro do ano passado e tornaram-se frequentes. Ao todo, 45 metros do guarda-corpo de alumínio já foram furtados, com prejuízo estimado em R$ 60 mil. A prefeitura está a par do problema e informou, por meio de nota, que a tomada de preço para reposição da estrutura está em andamento, mas que já teve de ser recalculada várias vezes pela velocidade da depredação. Apesar das interdições e dos furtos, a ciclovia ainda é usada clandestinamente.
Mas há quem tema passar por lá. "A gente curtia muito, dava uma liberdade enorme cruzar o bairro de bicicleta e estar na Barra ou no Leblon sem carro", contou a bióloga Elianne Omena, de 50 anos, moradora de São Conrado, cujo marido estava pedalando no dia do desabamento e chegou a ajudar no socorro das vítimas. "Mas depois do acidente paramos de vez de usar, não dava mais."
O funcionário público Márcio Dutra, de 54 anos, que também é morador de São Conrado, conta que proibiu os três filhos de usarem a via.
Em 16 de abril de 2016, três meses após ser inaugurada, uma ressaca levou ao desabamento de parte da pista da ciclovia, provocando a morte do gari Ronaldo Severino da Silva, de 60 anos, e do engenheiro Eduardo Marinho Albuquerque, de 54 anos. Sem condições de segurança, o trecho (Leblon-São Conrado) foi interditado pela Justiça e está fechado até hoje. O segundo trecho da pista (São Conrado-Barra), por sua vez, está fechado desde 15 de fevereiro deste ano, quando parte da pista cedeu em um temporal. A obra custou R$ 44, 7 milhões aos cofres públicos.
As investigações revelaram que uma sucessão de falhas resultou no desabamento e 14 pessoas foram indiciadas. Uma das falhas mais grosseiras foi não levar em conta o impacto das ondas no tabuleiro da pista (o que acabou provocando o acidente), mas apenas nos pilares.
Para o presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara Municipal, que investiga a queda da ciclovia, Renato Cinco (PSOL), a estrutura não pode ser reaberta enquanto toda a estrutura não for reavaliada. Segundo Cinco, também é importante ter um sistema de monitoramento das ondas e um plano de contingência para os dias de ressaca.
"Não houve análise de risco prévia em um local de presença notória de ondas desde 1906", criticou Cinco.
O Estado de S. Paulo.
(Roberta Jansen).