São Paulo, 02 - Qual o limite entre proteção e controle em família? Para a psicóloga Maria Beatriz Cytrynowicz, muitos pais têm dificuldade de entender essa diferença e acabam prejudicando os filhos. Em seu livro Criança e Infância: Fundamentos Existenciais, Clínica e Orientações, ela aborda os riscos da superproteção na infância. Segundo Maria Beatriz, os pais têm a ilusão de que podem livrar seus filhos de experiências negativas e dos sentimentos de ameaça e, com isso, afetam o desenvolvimento das crianças.
Os pais de hoje são mais superprotetores que antes?
A superproteção sempre existiu como uma busca dos pais em evitar sofrimentos e fracassos dos filhos ou assegurar experiências afetivas consideradas mais positivas. Não entendo que esta atitude seja, originalmente, exercício de um simples autoritarismo, mas se dá a partir da inquietação e da angústia que os pais podem experimentar ao cuidar do futuro desconhecido e incerto do crescimento dos filhos. Na atualidade vivemos e propagamos a ideia de que se você quer, você consegue ou faço o que quero, sou dono de minha vida e lidamos mal com dificuldades ou limitações, como se fossem sinais de fraqueza. Nos abalamos com frustrações que nem sempre são insuperáveis e tentamos eliminá-las da vida dos filhos.
Quando a proteção pode se tornar um excesso de controle?
Proteção é um cuidado absolutamente necessário para o crescimento dos filhos. A superproteção transforma cuidado em controle. O excessivo controle leva a maior incapacidade e insegurança da criança em lidar com a vida.
Filhos de pais superprotetores podem ser privados de viver experiências importantes para a sua formação? Qual o prejuízo?
Criança superprotegida não é sinônimo de felicidade. A atitude superprotetora tenta sempre evitar as frustrações dos filhos sem levar em conta as condições de como eles podem lidar com as dificuldades, desde um simples desentendimento com colegas ou professores a tarefas escolares mais difíceis. E busca desculpas enaltecendo indiscriminadamente as boas intenções da criança. A superproteção enfraquece e prejudica as descobertas das próprias capacidades, de suas aptidões para superar os desafios e enfrentar medos e angústias. Assim, quando se julgam contrariados ou fragilizados ou se deparam com novas situações ou provocações, facilmente podem tornar-se suscetíveis e descontrolados. Os pais não podem livrar os filhos de viver os próprios sentimentos de ameaça. É uma ilusão.
As redes sociais e a tecnologia criam um ambiente mais favorável para os pais desenvolverem uma postura superprotetora?
A superproteção conta com cada vez mais instrumentos de controle.
Qual a importância de estabelecer limites?
A atitude de tudo pode sem limites não favorece o crescimento da autonomia. Para fortalecer o crescimento é necessário que a criança compreenda as experiências de limites. Dizer não para um filho pode favorecer e aproximar outras possibilidades de lidar com situações. Quando dizemos não, é não a algo, uma situação, uma escolha, um desejo e não simplesmente ao filho que quer algo. É importante que fique claro a que se refere aquela negativa e que há outros caminhos a encontrar.
O Estado de S. Paulo.
(Isabela Palhares).