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Estado de Minas

Crime das sete mortes faz 95 anos e ainda intriga moradores de Tietê


postado em 23/04/2018 15:24

Na noite de 20 para 21 de abril de 1923, sete pessoas de uma mesma família - a mãe e seus seis filhos, o mais novo, um bebê de onze meses - foram brutalmente assassinadas a golpes de machado, em Tietê. O crime, que ficou registrado como "um dos mais horrendos a abomináveis ocorridos em São Paulo em todos os tempos", foi cometido pelo empregado de um sítio, afilhado do proprietário, um imigrante italiano. Passados 95 anos, o "crime das sete mortes" ainda mexe com o imaginário da cidade, hoje mais conhecida por ser a terra natal do presidente Michel Temer. Agora, o trágico episódio será contado em livro.

Quem visita o Cemitério Municipal de Tietê tem a atenção atraída por um túmulo com sete esculturas representando anjos. Velas, imagens e dedicatórias indicam ser a sepultura mais cultuada pelos moradores. Ali estão sepultados a dona de casa Maria Tonon Falcin, então com 35 anos, e os filhos Alba Regina, 13, Joanna, 11, Orlando, 9, Anézia, 7, Esther, 4, e Victório, com 11 meses, assassinados por Augusto de Arruda, conhecido como Mineiro. O túmulo, transformado em memorial, foi construído com doações da população à época, comovida e abalada com a tragédia que vitimou a família Falcin.

O pesquisador tieteense José Luiz Meucci, que está em vias de lançar um livro sobre as sete mortes, conta que o autor da chacina motivou um volumoso estudo psiquiátrico divulgado nacionalmente à época. Ele cumpriu 18 anos e 6 meses de prisão, sendo um ano na cadeia de Tietê, onze na então recente Penitenciária do Estado de São Paulo, e o restante no manicômio judiciário do Juqueri, em Franco da Rocha, onde morreu em 1941. O marido da dona de casa e pai das crianças, Ricardo Falcin, que estava em viagem na noite do crime, morreu em julho de 1951.

A casa que foi cenário da tragédia, no bairro rural Água de Pedra ganhou fama de mal-assombrada. "Consta que ninguém mais conseguiu morar no casarão, que virou ruínas e acabou desabando entre as décadas de 1970 e 1980", afirma Márcio Saccon, secretário de Cultura do município. O inquérito relatado pelo delegado de Polícia Venancio Ayres, em 5 de maio daquele ano, dá conta de que Mineiro era afilhado de Falcin. Como o sitiante estava com problemas na visão, decidiu contratá-lo para cuidar das lavouras e café.

No dia do crime, o fazendeiro tinha viajado para São Paulo, onde faria tratamento com um oftalmologista. Antes de viajar, foi à roça onde Augusto trabalhava com outros lavradores e fez a recomendação para que tomasse conta de sua casa e da família. O que Roberto não sabia era que o afilhado já havia assediado a mulher, sendo veementemente repelido por ela, que ameaçou "pô-lo no olho da rua".

À noite, após o jantar, Maria e os filhos se recolheram aos quartos. Augusto era considerado membro da família e dividia a cama com o menino Orlando. Altas horas, ele se levantou, foi ao quarto de Maria e, com o machado que havia usado para cortar cipó, matou a mulher com dois golpes no pescoço. O pequeno Victório acordou e ele também o matou nos braços da mãe. Na sequência, golpeou Alva, Joanna, Anézia e Esther. Ato contínuo, se dirigiu ao quarto e assassinou Orlando com um golpe no pescoço.

Conforme a confissão do assassino, como que "tomado por um demônio", ele subiu à cama da mulher e estuprou duas vezes o cadáver "num lago de sangue". Não satisfeito, violentou também o corpo da menina Joanna. Consumada a chacina, Mineiro sentou-se à mesa e escreveu uma carta "em termos desaforados", segundo o processo, em que confessa os crimes e assina: "Augusto Arruda, que também se mata". Ainda segundo o inquérito, ele pegou uma navalha, mas não teve coragem para o suicídio, fugindo pelo cafezal.

O delegado foi avisado pela manhã, por vizinhos, que estranharam o silêncio na casa e encontraram os corpos. Arruda foi preso às 23h30 do mesmo dia, enfurnado na mata. Conforme o inquérito, ele "confessou calmamente o seu crime, não esquecendo um mínimo pormenor". Ao encerrar o relatório, encaminhado à promotoria pública, Ayres lamenta que "a pena de morte foi já abolida…"

Meucci pesquisou o "caso das sete mortes" durante anos e chegou a viajar à Itália, em busca de familiares dos Falcin e Tonon. Também pesquisou a família do assassino, que morava no bairro Cruz das Almas. "Num determinado momento suas vidas se entrelaçaram, mas o fatídico acontecimento acabou desestabilizando essas famílias por décadas, gerações e, até hoje, mantém algumas feridas abertas", relatou. O livro sobre as sete mortes ainda não tem data de lançamento.

(José Maria Tomazela)


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