São Paulo, 15 - Para autoridades de Roraima, a crise provocada pela alta na imigração tem culpado - e não são os cubanos. Com o perfil de estar "só de passagem", em menor número e com melhor situação financeira, o grupo não enfrenta na capital Boa Vista a mesma resistência que têm sofrido os venezuelanos - estes, sim, apontados pelo governo local como responsáveis por lotar equipamentos de saúde e incrementar a violência urbana.
Anteontem, a governadora do Estado, Suely Campos (PP) pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) o fechamento temporário da fronteira com a Venezuela.
"Essa migração se mistura com a dos venezuelanos, que é muito mais extensa. É um incremento", afirma Doriedson Ribeiro, coordenador da Defesa Civil de Roraima, um dos que justificou a ação do Estado junto ao STF. "A gente praticamente não vê cubanos envolvidos em criminalidade ou trazendo impactos sociais."
Na fronteira Lethem-Bonfim não há delegacia e o controle de entrada é precário, segundo especialistas. "Nós temos uma faixa muito extensa, fica difícil fazer a fiscalização", afirma Ribeiro. A travessia é feita por via aérea, por meio de companhias menores, ou por estrada. Uma das rotas é pela BR-401, que dá acesso a Boa Vista.
Lá, eles encontram uma "rede de cubanos" que se formou entre os anos 1980 e 1990, com base no curso de Medicina da Universidade Federal de Roraima (UFRR). A maioria dos novos migrantes, porém, prefere seguir viagem.
Em geral, os cubanos também recebem aporte financeiro de familiares - outra diferença em relação aos venezuelanos, que chegam sem dinheiro e precisam recorrer a abrigos públicos ou dormir na rua. "A Venezuela vive uma crise social e política, com hiperinflação, pessoas desnutridas e sem acesso a medicamentos", diz Cleyton Abreu, coordenador do Serviço Jesuíta a Migrantes e Refugiados (SJMR), em Boa Vista.
Caminho
A rota adotada pelos dois grupos não é a mesma. Enquanto os cubanos descem da Guiana, os venezuelanos cruzam diretamente a fronteira com o Brasil, usando rodovias ou a pé. Esse percurso já havia sido utilizado por haitianos que se abrigaram na Venezuela após o terremoto de 2010, mas, com a crise, foram os primeiros a buscar refúgio no País.
Outra parcela dos venezuelanos vai para outros países da América Latina e só então faz a segunda migração para o Brasil. "Como o sul da Venezuela é formado por floresta, pessoas que estão no meio urbano, mais ao norte, preferem ir para Colômbia ou Panamá, que ainda têm a facilidade do idioma", diz Abreu. /
Via Bahamas
Não só por Roraima os cubanos entram no Brasil.
O Estado de S. Paulo.
(MARCELO GODOY e FELIPE RESK).