São Paulo, 19/11/2017, 19 - Parte da história de São Paulo e do skatista Murilo Romão foi construída no Vale do Anhangabaú, no centro de São Paulo. Entre os Viadutos do Chá e Santa Ifigênia, ele descobriu que a brincadeira sobre rodas poderia virar profissão e, mais do que isso, percebeu que aquela região falava muito sobre o passado da cidade em que nasceu.
Sem pretensões começou, então, a reunir registros no perfil @centrosaopaulo no Instagram, com fotos que vão das ruas cheias no carnaval até a solidão de um morador de rua. Assim como Romão, ao menos outros 70 paulistanos criaram perfis no Instagram para retratar regiões específicas da cidade, do Largo do Arouche a Paraisópolis, favela na zona sul. A proposta também varia, com publicações sobre gastronomia e arquitetura, por exemplo.
Dentre eles, um dos mais conhecidos é o @instamooca. Com 10,9 mil seguidores, o perfil da gerente educacional Jacqueline Brizida, de 35 anos, já foi recomendado até pelo jornal inglês The Guardian. A ideia era registrar para mim, fazer uma coleção de imagens que eu via, das casinhas, dos carros antigos. O perfil foi criado dois meses após Jacqueline se mudar de Pinheiros, na zona oeste, para a Mooca, na região leste, em 2014. Muito da Mooca eu conheci andando.
Descoberta
A fotógrafa Patrícia Nogueira, de 42 anos, trocou o Itaim-Bibi, na zona oeste, pela Vila Mariana, na zona sul, em 2014 e, neste ano, criou o @insta.vilamariana para o novo bairro. É um amorzinho que faço nas horas vagas, diz ela, que teve a ideia após descobrir o InstaMooca.
Já o fotógrafo Jorge Hynd, de 31 anos, transformou parte das imagens do Augusta, Meu Quintal em lambe-lambes, que espalhou pela região. Acostumado a trabalhar em ambientes fechados, ele faz os registros do projeto sempre nas noites de sábado na Rua Augusta, no trecho entre a Avenida Paulista e a Praça Roosevelt, onde tem o fervo. Ali é um mar de pessoas, a cada dez metros tem pessoas diferentes - e todo mundo interage.
Há também perfis administrados por mais de um pessoa, como o Coisas de Pinheiros, dos vizinhos e jornalistas Fred Itioka, de 46 anos, e Marina Gurgel, de 31. A ideia, diz ele, é mostrar um bairro que abriga todos, de um bar pé de chinelo a um restaurante refinado.
Fora do eixo centro-zona oeste, são poucos os exemplos. Foi isso que motivou a esteticista Amanda Siqueira, de 23 anos, a criar o Itaquera no Ângulo. Amanda fotografa e faz curadoria de imagens do bairro, na zona leste, sugeridas por seguidores. Quero mostrar coisas boas de Itaquera, que a periferia tem beleza, e também mostrar o que ainda tem de melhorar.
Em tempos em que álbuns de fotos físicos são raridades, eles se tornam um pouco da memória dos locais - mas uma memória diluída, segundo o pesquisador na área de Comunicação Vítor Braga.
O Estado de S. Paulo.
(Priscila Mengue).