São Paulo, 23 - Além do aperto financeiro, o reitor da USP, Marco Antonio Zago, deixa o cargo em janeiro com a marca histórica de ter conseguido aprovar um sistema de cotas na instituição. Mas diz que a função da universidade é apenas a de educar. Para ele, seu sucessor não deve colocar dinheiro em programas de permanência estudantil, como bolsas, moradia e alimentação, para os jovens de baixa renda que vão entrar na USP. Estudos mostram que a assistência é crucial para que estudantes pobres não desistam do curso. "Esta é uma responsabilidade social do governo. Tem maneiras de resolver, não precisa passar mais dinheiro para a universidade, o governo pode criar programas de suporte", disse Zago em entrevista ao Estado. Como exemplo, ele cita o Programa Universidade para Todos (ProUni), que dá bolsas para estudantes em faculdades privadas.
Como você gostaria que a sua gestão fosse lembrada?
Como a gestão que preservou a autonomia da USP. Quando nós entramos, a previsão era que nós não completaríamos o ano de 2016 por falta de recursos.
Mas as reservas estão muito baixas.
O Grandino (João Grandino Rodas, ex-reitor) já tinha queimado R$ 1 bilhão das reservas. Queimamos mais R$ 1 bilhão. Este ano, já está em 98% o acumulado do comprometimento da folha porque nos primeiros meses não tinha saído todo mundo do PDV (plano de demissão voluntária), só em abril se estabilizou mais abaixo. Fizemos uma redução de 50% nos gastos com consumo, contratos. Então, sem olhar números, posso dizer que não estamos gastando o total de 100% do orçamento mais. Mas precisamos refazer nosso fundo porque ele que vai servir, primeiro, de tampão para essas oscilações que existem na economia.
Nesse contexto de crise, a universidade terá dinheiro para ajudar os alunos pobres que entrarão por cotas?
A lógica vai nos dizer que precisa vir de fora. Porque os recursos que a universidade recebe são para desenvolver o ensino de qualidade e a pesquisa. Nós precisamos desses recursos para os prédios, para a manutenção, para manter os laboratórios funcionando, para pagarmos técnicos, professores. Claro, nós sempre tivemos alunos com dificuldades financeiras e fomos criando programas de apoio aos estudantes. Só de alimentação gastamos com estudantes R$ 70 milhões por ano. Neste ano, como a inclusão aumentou, já tínhamos a falta, já está no limite. Não temos recursos para aumentar isso muito mais.
Qual é a saída para o próximo reitor nesse caso?
Estou convicto que a sociedade é que tem que se encarregar disso. Porque nós vamos fazer nossa função social de educar. Pode ser através de empresários, fundos, mas, na verdade o mais prático que podemos ter resultado imediato é através do governo.
Por que a USP caiu no ranking Times Higher Education?
Não caiu. São oscilações normais de rankings. A USP está muito bem, a produção científica está crescendo e continuamos a ser a melhor universidade da América Latina.
As informações são do jornal
O Estado de S. Paulo.
(Renata Cafardo).