São Paulo, 22 - Nas prateleiras de dezenas de bibliotecas, livrarias e casas brasileiras existe uma senhora chamada Dona Sofia. Trata-se de uma professora aposentada que mora no alto de uma colina bucólica. Os vizinhos não sabem, mas a casa de Dona Sofia é diferente: tem poesias escritas nas paredes de todos os cômodos! Certo dia, ela se dá conta de que não há mais espaço para escrever e, então, decide criar cartões poéticos para distribuir seus poemas preferidos aos moradores da cidade.
A clássica história do autor pernambucano André Neves, narrada no livro 'A Caligrafia de Dona Sofia' (Editora Paulinas), foi inspirada em uma professora de pintura que ele teve no Recife - a artista plástica Badida -, com quem aprendeu a amar ainda mais poesia. Era, então, simplesmente uma memória que ele quis colocar em livro. Mas uma memória do que, na educação, chama-se mediação de leitura, prática que pode ocorrer de várias maneiras com o intuito de promover o encontro entre livro, leitura e leitor. Não à toa, Dona Sofia vem se tornando, nas escolas e entre especialistas, um símbolo da "mediadora ideal", por se tratar de uma mulher com grande repertório de leitura e quer compartilhar o que ama ler.
Esta é a premissa do papel do mediador de leitura: gostar de ler e de contagiar o outro com a sua paixão por determinado livro. Mas como? Primeiro, entendendo que não há receitas prontas. Cada pessoa irá descobrir seu caminho leitor.
Mesmo em um espaço profissional de leitura, como uma biblioteca pública, a mediação pode ser de formas muito diversas. Assim como as vitrines e os espaços atrativos (ou não) das livrarias, as bibliotecas já são mediação. Só que os profissionais dos equipamentos públicos podem ter missões mais complexas.
Nas bibliotecas dos CEUs em São Paulo, grande parte da população, especialmente jovens e adultos que nunca tiveram acesso ao livro, não se sente legitimada a entrar.
Obstáculos
. As dificuldades independem da classe social.
A mediação em si tem diversos caminhos a percorrer até que ela aconteça. A narração oral ou contação de histórias é das mais usadas. Mas os envolvidos têm um dilema: se narração oral de histórias é uma prática artística, seria justo o educador ou bibliotecário se sentir obrigado a fazê-la? E, pelo mesmo motivo, seria dever do contador de histórias a função pedagógica de mediar o livro? Para Tierno, há que se diferenciar as intenções das práticas e acolhê-las.
Mostra literária
. Há cinco anos, o autor de Dona Sofia fez sua primeira "exposição literária". Foi com o livro 'Tom' (Ed. Projeto), em que narra de forma poética a relação de um menino autista com o mundo. Com 'Nuno e as Coisas Incríveis' (Ed. Jujuba), de 2016, também surgiu a ideia de transformá-lo numa mostra visual.
Mais do que ilustrador ou escritor, Neves se vê como um promotor de leitura. Em encontros com crianças, cita outros autores, lê diversos tipos de livros, fala sobre suas preferências, aponta caminhos. As exposições, no fim, são outra forma de fazer o que ele mais gosta: ler com o outro. "Não quero que as pessoas leiam melhor meu livro ilustrado para ler outros títulos meus ou outros livros ilustrados apenas. Quero que elas se desenvolvam e leiam romances, contos. Que sejam adultos leitores de vários tipos de livros." As informações são do jornal
O Estado de S. Paulo.
(Bia Reis e Cristiane Rogerio, especial para O Estado).