Eu quero ver se eu pinto inteiro/ Um muro de Moema até o Brás, devem cantar os munícipes em coro alegre e descontraído, em referência à recente guerra declarada por Doria aos pichadores.
Por isso, chega a ser mais triste do que uma Quarta-Feira de Cinzas não encontrar máscaras à altura desses personagens. Nas lojas de fantasia de São Paulo, por exemplo, o tempo parou no escândalo do mensalão. Quem, em 2017, ainda quer sair de Roberto Jefferson, Severino Cavalcanti ou mesmo de Joaquim Barbosa? Ninguém.
O mais perto de algo novo são as máscaras do juiz Sérgio Moro, mas elas são tão genéricas que é preciso muita boa vontade para reconhecer o rosto do magistrado ali.
Onde estariam Temer, Doria e Crivella ou Eike Batista? Segundo gerentes de loja e fabricantes de máscaras, eles estão soterrados pela força do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Nós estamos produzindo muito Trump. Ainda não temos números, mas a máscara dele deve ser a mais procurada, diz a representante da fábrica Mabone, Joyce Helena.
Blocos
Apesar da crise das máscaras, o carnaval 2017 deve fazer jus à tradição crítica da folia. Neste ano, a conjuntura política tem oferecido muito material. Não tem como não ser crítico.
Em São Paulo, alguns blocos vão direto ao ponto e no próprio nome já entregam suas intenções. É o caso do Bloco do Fora, Temer e o Vou de Doria. Diversão não é alienação. E expressar descontentamento não precisa ser algo agressivo, diz Deh Torres, uma das criadoras do Bloco do Fora, Temer.
Para Alê Youssef, um dos fundadores do Acadêmicos do Baixo Augusta, a crítica, o deboche e o desbunde são centrais no carnaval. A crise política e das instituições só alimenta tudo isso. Creio que no carnaval esse processo ficará visível.
Marchinhas
Antes de ganhar as ruas, as marchinhas acontecem nas redes sociais. O administrador de empresas Vitor Velloso já emplacou duas no carnaval deste ano: Pinto Por Cima (Você pode pichar primeiro/Não deixo mole e pinto atrás) e Solta O Cano Que Não Cai (Solta o cano que não cai/Solta o cano que não cai, meu irmão...). O segredo da marchinha é perceber o ridículo das situações e fazer graça com elas, diz Velloso.
O atual clima de embate político, porém, tem tingido o carnaval deste ano com mau humor. As pessoas enxergam preferências políticas nas letras das marchinhas. Os comentários são muito agressivos. É do tipo tem de morrer, tem de matar e outros absurdos, acredita o compositor.
A impressão é compartilhada pelo autor da marchinha mais cantada no carnaval passado, Japonês da Federal, o advogado Thiago Vasconcellos. Muita gente achava que a marchinha era de direita, coxinha. Aí ficou uma coisa inserida nesse Fla-Flu político, lamenta.
Embora as marchinhas tenham como objetivo ridicularizar seus homenageados, pode acontecer de alguma vítima gostar de se ver citada e imortalizada em uma música carnavalesca.
Não tem como controlar. Acho que os políticos lidam com isso de um jeito diferente. É aquela história: qualquer publicidade é boa publicidade, diz Danilo Dunas, autor de Prefeito Topzera (No mercadão eu vou trocar a mortadela/Por sanduíche de pastrame e cabernet). Se o prefeito gostou, isso já não é problema de quem fez, diz. As informações são do jornal
O Estado de S. Paulo..