Barra do Guaicuí, um lugarejo de Várzea da Palma (MG) pouco antes do encontro dos Rios das Velhas e São Francisco, entrou para a história da literatura como o lugar onde o jagunço Riobaldo chegou à conclusão de que gostava mesmo de Diadorim.
O poder público não conseguiu manter nem mesmo a fábrica de blocos de calçamento que instalou no povoado. Como é época de piracema, a localidade não pode contar com a renda extra deixada por pescadores profissionais que costumam jogar a linha na confluência dos rios. Nos últimos três anos, duas siderúrgicas fecharam em Várzea da Palma, deixando sem trabalho 2 mil funcionários. Na vizinha Pirapora, fábricas de tecido reduziram as ofertas de emprego pela metade. Uma grande siderúrgica opera apenas dois de seis fornos. Boa parte dos plantios de eucaliptos está sem colheita, por falta de comprador.
Oclênio Siqueira, de 18 anos, e Mateus Santos, de 19, contam que foram demitidos depois de um ano trabalhando em plantios irrigados de frutas. "Está muito difícil agora arrumar vaga nesse serviço", diz Mateus. Ele relata que amigos migraram para Uberlândia, onde atuam em granjas e comércios.
Oclênio agora trabalha numa olaria. Fatura R$ 800 por mês, sem carteira. Ele faz planos. Pretende montar um estúdio de tatuagens.
"Freguês tem demais, o pessoal quer ficar com marca no corpo."
Há também quem busca fazer marcas no templo. Ali, na margem direita do Rio das Velhas, a ruína da Igreja de Nosso Senhor do Matozinho, construída por jesuítas no século 17, há décadas é alvo de quem tenta eternizar seu nome em pedras e rebocos. As inscrições se sucedem: "Gerson Santos, 1958", "João, 03-12-90", "EMM, 1973", "Daniel, 20-2-99", "Bia e Tonho, 2-2-90", "Luan, 20-09-15". Mas o que desperta a atenção é a gameleira que cresceu rente à parede do fundo, alcançou o telhado e desceu para o altar.
As informações são do jornal
O Estado de S. Paulo..