O Estado não registrava números semelhantes de febre amarela desde 2002, quando 12 pessoas morreram no Serro, no Vale do Jequitinhonha, e cidades da região, vizinha da que hoje registra casos da doença. Desde o início do ano, o número de mortes por suspeita de febre amarela na região é de 38 - 8 a mais que no relatório de anteontem. Há um total de 20 mortes prováveis pela doença (quando exames iniciais comprovaram a doença, mas restam outros testes a serem feitos). Do total, dez são de homens com idade próxima de 40 anos. Também já foram registrados 133 casos suspeitos da doença, 23 a mais que no relatório anterior.
O Estado liberou R$ 26 milhões para ações de combate à doença. A superintendente de Vigilância Epidemiológica, Ambiental e de Saúde do Trabalhador, Deise Aparecida dos Santos, afirma que, pelo fato de a vacina contra a febre amarela estar no calendário de imunização, são pequenas as chances de uma epidemia a partir de pessoas que tomaram a vacina.
A estratégia do governo para conter a doença é aumentar a vacinação. Os 152 municípios que fazem parte do decreto de emergência integram as regionais de saúde de Coronel Fabriciano (Vale do Aço), Governador Valadares (Leste), Manhumirim (Zona da Mata) e Teófilo Otoni (Vale do Mucuri). O decreto vale por 180 dias e tem como objetivo a adoção de medidas administrativas. Na prática, permite compra de medicamentos e contratação de profissionais de saúde sem licitação.
A repercussão das mortes ainda fez moradores de regiões não afetadas, até o momento, procurarem postos de saúde. Em Belo Horizonte, que está a 200 quilômetros de Coronel Fabriciano, a regional de saúde mais próxima da capital, já há registro de corrida a centros de saúde para imunização. Conforme a Secretaria Municipal de Saúde, entre 9 e 11 de janeiro foram aplicadas 5.908 doses na cidade. No centro de Serra, onde normalmente dez pessoas são inoculadas por dia, o número subiu para cerca de 200. A prefeitura garante manter estoque de 50 mil doses.
Fernando Pimentel esteve ontem em Teófilo Otoni e pediu que as prefeituras abram todos os postos de saúde para vacinação durante o fim de semana. Temos em estoque mais de um milhão de doses, disse. O Estado criou ainda uma sala de situação contra a crise.
Preocupação. Para o infectologista Jessé Reis Alves, coordenador do Ambulatório de Medicina do Viajante do Hospital Emílio Ribas, em São Paulo, o aumento de casos é muito expressivo, mas a grande preocupação é que a doença passe a ser transmitida no meio urbano. Todos os casos humanos conhecidos hoje foram adquiridos após picadas de mosquitos silvestres, que, por sua vez, se contaminaram ao picar macacos doentes.
O medo é que se houver muitas pessoas doentes em uma área urbana muito populosa, mosquitos urbanos, como o
Aedes aegypti
, que até os anos 1940 transmitiam a doença em cidades, voltem a fazê-lo. Mas ainda não há nenhuma evidência de que haja ciclo urbano.
O médico observa ainda que as áreas de risco não aumentaram.