Genebra, 19 - A Polícia Militar de São Paulo é alvo de uma denúncia na ONU. Nesta segunda-feira, 19, a ONG Conectas se pronunciou diante do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas em Genebra, pedindo que a entidade cobre explicações das autoridades brasileiras.
No discurso, os ativistas criticaram "o crescente processo de criminalização do direito de protesto no Brasil". A intervenção ainda citou o fato de que a violência da polícia fez várias vítimas, entre elas a jovem Deborah Fabri, de 19 anos. Ela perdeu a visão do olho esquerdo por conta de um estilhaço de bomba.
"O Brasil vive um momento político conturbado após o afastamento definitivo da Presidente Dilma Rousseff. As ruas de várias cidades do país têm se tornado o principal espaço de manifestação das pessoas que reclamam por novas eleições ou denunciam propostas do Governo de Michel Temer que representam graves retrocessos em matéria de direitos humanos", disse a ONG.
"Em reação aos protestos de larga escala que estão ocorrendo, o Estado brasileiro tem utilizado suas forças de segurança para reprimir as manifestações violentamente", acusou.
"No Estado de São Paulo, onde os protestos de rua têm sido os mais numerosos, o governador Geraldo Alckmin reprimiu com truculência os manifestantes. Vários manifestantes foram feridos", disse.
A ONG ainda alerta que, quatro dias após tal episódio, "a mesma polícia sob comando do governador Alckmin realizou uma operação de grande porte detendo ilegalmente 26 jovens, sendo 8 menores de idade". "Depois das prisões, os jovens foram deixados incomunicáveis por 6 horas, sem contato com suas famílias ou advogados. A detenção foi declarada ilegal pela justiça", declarou.
A Conectas ainda denunciou na ONU que um oficial do exército "se infiltrou num grupo de manifestantes ocultando sua identidade".
"Pedimos que este Conselho se pronuncie contra a restrição ilegítima do direito de protesto no Brasil e que o Alto Comissariado incida para evitar esse retrocesso de valor imensurável", completou.
Em resposta, a diplomacia brasileira indicou que os incidentes estão sendo investigados. "Se exageros ocorreram, os autores serão processados", garantiu o Itamaraty. "O governo brasileiro defende o Estado de Direito, de acordo com princípios democráticos", completou a diplomacia, lembrando que o País reconhece plenamente o direito à liberdade de expressão e manifestação.
A denúncia contra o Brasil acontece a poucas semanas da votação na ONU para escolher os novos membros do Conselho de Direitos Humanos. O Brasil faz campanha do governo para garantir sua eleição..