São Paulo, 10 - A empresa americana Uber, a mais conhecida entre os aplicativos de transporte individual de passageiros, tem perdido motoristas em São Paulo. Os condutores falam em "decepção" diante do retorno financeiro esperado, acusam a empresa de fazer pressão psicológica e se queixam de horas excessivas de trabalho.
O Uber afirma que são eles que o contratam, e não o contrário. O motorista Amauri Antônio Pereira, de 52 anos, usou o aplicativo por um ano, antes de desistir. Hoje, voltou a trabalhar com carretas. "É pura ilusão. O Uber engana o trabalhador. Promete que você vai ganhar R$ 7 mil, então você se mata, trabalha 12 horas por dia e não ganha R$ 3 mil", diz. "Se dependesse disso, estava passando fome."
Já Marcelo Eduardo de Sousa, de 41, aguentou bem menos: só duas semanas.
Pressão.
O cientista da computação Moacir de Oliveira, de 37, está em busca de emprego fixo após passar um ano e meio no Uber. Para ele, falta apoio da empresa e retorno financeiro. "Pressão psicológica existe a todo momento, a gente recebe mensagem e e-mail se desligar o aplicativo. A empresa pode bloquear o motorista", afirma. "É quase um regime de escravidão, o valor que fica é irrisório."
Para o diretor-presidente da SP Negócios, Rodrigo Pirajá, a regulação permite que as empresas disputem motoristas.
Em nota, o Uber diz que a taxa cobrada do condutor varia entre 10% e 30%. "É importante frisar que são os motoristas profissionais que contratam a plataforma", afirma. Segundo a empresa, os motoristas "têm total flexibilidade e independência para fazer seus horários, conectando-se com a frequência que bem entenderem".
Retorno insuficiente.
O aumento na rotatividade de motoristas na Uber pode ser explicado tanto por falta de vínculo empregatício como também por problemas de condições de trabalho e retorno financeiro aquém do esperado, segundo afirmam especialistas. Aos condutores, também é permitido usar simultaneamente outros aplicativos.
"O Uber não está preocupado com a rentabilidade dos parceiros", diz o consultor especializado em Transportes Flamínio Fichmann. Na opinião do especialista, os interesses do Uber seriam de "lucratividade máxima" e não incluiriam preocupações com "componentes sociais". "A empresa só tem olhos para a própria rentabilidade. Por isso, existe rotatividade grande, com muitos motoristas saindo", diz.
Fichmann afirma que essa relação também cria risco de prejudicar usuários de transporte individual. "Se o Uber de fato quebrar o sistema de táxis, como me parece que vai, e decidir sair do País de repente, vai ficar um buraco.
Na visão de Pirajá, o modelo vai permitir que as empresas valorizem os bons profissionais, para não perdê-los. "Antes da regulação, só tinha o Uber. Agora há outras operadoras que, por exemplo, cobram taxas menores do motorista", afirma. "Algumas já estão pensando em alternativas de fidelizar, como oferecer renda mínima."
A professora universitária e advogada trabalhista Fabíola Marques diz que a liberdade para escolher a operadora, além da flexibilidade com horários e dias trabalhados, afasta a caracterização do vínculo empregatício. Para ela, não haveria relação de subordinação entre motoristas e o Uber. "Ele é muito mais um profissional autônomo que tem liberdade de aceitar ou não as exigências impostas pela empresa.".