São Paulo, 31 - Na esquina da Rua Vieira de Morais com a Avenida Washington Luís, no Campo Belo, zona sul, repousa há um ano e meio uma viga de 90 toneladas que despencou sobre operários da obra da Linha 17-Ouro do monotrilho, matando Juraci Cunha dos Santos, de 25 anos, e deixando outros dois feridos. A cena simboliza uma obra que, até agora, só degradou a região e irrita comerciantes e moradores.
No Hotel Blue Tree, a obra deixou infiltrações e rachaduras em uma sala. A coordenadora de serviços exclusivos, Camila Damiani, de 28 anos, afirma que a obra desvaloriza o imóvel. Ter uma sala de eventos que fica fechada é prejuízo, diz. Ela conta que os hóspedes não gostam de ficar em quartos voltados para o monotrilho.
Logo depois do hotel, há mais um canteiro de obras. Em vez de operários no local, homens cortavam o mato que cresce entre estruturas metálicas já enferrujadas. Os tratores e outros veículos usados pela construção civil estavam estacionados no dia 18, quando a reportagem visitou o local.
Frustração.
Na Rua Xavier Gouveia, moradores se mostram insatisfeitos com a poluição visual da linha, o atraso na entrega e os danos nos imóveis.
A gerontóloga Beth Macedo, de 52 anos, demonstrava felicidade de saber que o monotrilho que é visto da sala e da cozinha de seu sobrado poderia chegar até a Linha 1-Azul, até saber que os planos tinham mudado e que não há mais prazo para a obra. Isso é inacreditável.
Vizinha de Beth, a aposentada Maria Eugênia, de 67 anos, conta que seu sobrado, antes avaliado em R$ 1,2 milhão, teve o preço reduzido para R$ 800 mil. Ela tem vontade de sair, mas teme o prejuízo. Agora eu nem sei mais o que fazer. Parece que não vai ficar pronto nunca. Só espero estar viva para ver a linha funcionando e valorizar novamente meu imóvel.
Para o diretor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo do Mackenzie, Valter Caldana, as queixas são pertinentes. Os monotrilhos, à medida em que geram uma agressão à paisagem, acabam refletindo na sociedade um sentido de rejeição, diz.
Em nota, o Metrô informa que a empresa e o consórcio monitoram todas as interferências relativas às obras, fazendo os reparos necessários nos imóveis. O consórcio já foi notificado para que providencie melhorias nas condições dos canteiros e a viga não foi retirada porque a Superintendência Regional do Trabalho ainda não liberou o lançamento das vigas curvas.
O Estado de S. Paulo..