A atriz Marília Pêra morreu na manhã deste sábado, no Rio de Janeiro, aos 72 anos. A atriz estava com câncer e morreu em casa, ao lado da família. Dia 11 do mês passado, o ator Miguel Falabella, que contracenou com ela no seriado Pé na Cova, da Globo, postou em seus perfis no Instagram e Facebook foto ao lado da atriz com a seguinte legenda: "Não desita de nós! Por favor! Não desista de nós". No dia seguinte, a jornalista Hildegard Angel publicou em seu site texto afirmando que o estado de saúde de Marília era "extremamente preocupante" e que ela respirava com auxílio de balão de oxigênio. O velório está sendo realizado no Teatro Leblon, no Rio de Janeiro.
Dama da dramaturgia brasileira, a estreia da foi aos 4 anos. E num clássico: a pequena Marília fazia o papel da filha de Medeia na tragédia grega em que trabalhavam seus pais, Manoel Pêra e Dinorah Marzullo, nomes emblemáticos das artes cênicas brasileiras.
Leia Mais
Morre no Rio a atriz Marília PêraDe gênio forte, Marília Pêra era mulher de opinião; relembre perfilAtriz Nydia Lícia morre aos 89 anos em São PauloDilma lamenta morte de Marília Pêra no TwitterMarília Pêra é enterrada no Rio de JaneiroArtistas lamentam morte de Marília Pêra“O teatro é a minha vida", dizia Marília. E não havia um pingo de clichê nisso. "Cria" da companhia de Henriette Morineau, a atriz frequentou uma escola de fazer inveja a artistas que hoje se formam na universidade.
Manoel não queria saber de filha artista, pois a profissão sempre impôs sacrifício à família – sobretudo às mulheres, obrigadas a lidar com o preconceito. Mas ele acabou incentivando a garota a estudar balé clássico. Não teve jeito: Marília passou a dançar – ao vivo – na TV. Atuou nos programas Espetáculos Tonelux, Grande Teatro Tupi, Teatrinho Troll e Câmera um. Dos 14 aos 21 anos, a jovem bailarina ganhava a vida em musicais.
Em 1959, ela se casou com o ator Paulo Graça Mello, mas a relação durou pouco. Aos 18, em 1961, já excursionava por Brasil e Portugal com a peça Society em baby-doll, de Henrique Pongetti. Em 1962, atuou ao lado de Bibi Ferreira em Minha querida lady.
Marília Pêra praticamente viu a Rede Globo nascer: a partir de 1965, integrou o elenco das novelas Rosinha do Sobrado, Padre Tião e A moreninha.
Na década de 1960, Marília atuou em montagens emblemáticas para a cultura brasileira. Se correr o bicho pega (Oduvaldo Vianna Filho e Ferreira Gullar), A ópera dos três vinténs (Bertold Brecht e Kurt Weill) e Roda viva (Chico Buarque de Holanda) foram apenas algumas delas. Em 1969, foi premiada por sua atuação em Fala baixo senão eu grito, de Leilah Assumpção, que também produziu. Em 1973, a produtora e atriz conquistou críticos e público em Apareceu a Margarida, de Roberto Athayde, dirigida por Aderbal Freire-Filho. Em 1978, estreou como diretora em A menina e o vento, de Maria Clara Machado.
Marília tomou a frente de espetáculos memoráveis: em 1981, atuou e produziu, em parceria com Marco Nanini, Doce deleite, com textos de Alcione Araújo, Mauro Rasi, Vicente Pereira e José Márcio Penido, sob direção do mineiro Alcione Araújo. Em 1984, ganhou o Prêmio Molière por Brincando em cima daquilo, com textos de Dario Fo e Franca Rame. Em 1986, dirigiu, coreografou e produziu um megassucesso: O mistério de Irma Vap, de Charles Ludlam, estrelado por Marco Nanini e Ney Latorraca. Deslumbrou os franceses como Coco Chanel em Mademoiselle Chanel (2004).O guarda-roupa, vindo da França, contou com peças originais.
Cinema
Marília Pêra atuou em três dezenas de filmes.
Musicais
Cantora afinada, a atriz carioca participou de vários musicais: foi Carmen Miranda nos espetáculos A pequena notável (1966) e Marília Pêra canta Carmen Miranda (2005). "Incorporou" Dalva de Oliveira em A estrela Dalva (1987) e Maria Callas em Master class (1996).
Televisão
Marília Pêra era uma das atrizes mais queridas de seu povo. Boa parte da carreira se deu na na Rede Globo. Em 1971, conquistou o país com sua Shirley Sexy na novela O cafona, de Bráulio Pedroso, fazendo par com o galã Francisco Cuoco. Em Bandeira 2, de Dias Gomes, fez o papel de uma taxista – sem saber dirigir. Em 1974, protagonizou Supermanoela, de Walther Negrão.
Em 1987, Cassiano Gabus Mendes escreveu para ela a Rafaela Alvaray em Brega e chique. Marília foi vovó maluquete em Começar de novo (2004), a aristocrata Gioconda em Duas caras (2007) e Maruschka Lemos de Sá em Aquele beijo (2011). Nas minisséries, atuou em O primo Basílio (1988), na qual julgava ter feito seu melhor papel na TV, o da vilã Juliana. Outros trabalhos foram Os maias (2001) e JK (2006), de Maria Adelaide Amaral, como a primeira-dama Sara Kubitschek.
O último papel de Marília na TV foi como Darlene, a maquiadora de defuntos do seriado Pé na cova, na Rede Globo, ao lado de seu amigo Miguel Falabella, atualmente em cartaz..