Brasília, 24 - Bióloga da Universidade de São Paulo, Margarath Capurro espantou-se quando soube que o ministro da Saúde, Marcelo Castro, citou a pesquisa de mosquito transgênico Aedes aegypti como uma arma promissora para conter epidemias de dengue, chikungunya e zika. "O trabalho está parado por falta de verbas", contou a bióloga, coordenadora do trabalho.
A interrupção ocorreu em setembro, depois de pelo menos quatro meses nos atrasos dos repasses. Com a interrupção, uma boa parte do trabalho que havia sido feito, se perdeu.
"Mesmo que houvesse interesse, teríamos de começar praticamente do zero", conta. O projeto começou há três anos. Ele tem como ponto de partida o desenvolvimento de espécies transgênicas de Aedes aegypti. Tais espécies produzem filhotes que morrem antes de chegar a vida adulta, quando podem transmitir a dengue. A estratégia é semelhante a uma tática usada, com sucesso, para drosófila, a mosca da fruta.
Até o ponto em que foi realizada, a pesquisa foi bem-sucedida. Machos transgênicos foram soltos em duas cidades.
"A população de mosquitos foi retomada. Teríamos de refazer tudo para, numa outra etapa, fazer uma avaliação epidemiológica", contou a professora. Ela estima que a pesquisa, se fosse retomada sem nenhuma restrição de recursos e tivesse todas as condições levaria pelo menos cinco anos para ser concluída. O projeto foi financiado pela Secretaria de Saúde da Bahia. "Eles tinham interesse em concluir", conta. "Mas não havia recursos disponíveis", completa.
Resignada, ela avalia que a interrupção é fruto da crise enfrentada no Brasil. Ao todo, o projeto previa o investimento de R$ 4 milhões.