Rio, 10 - Montadas como primeiro passo de um projeto de policiamento comunitário, as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) atravessam uma crise que tem levado os policiais militares que nelas trabalham a relatar hostilidade e raiva por parte dos moradores das favelas. É o que revela pesquisa do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC) aplicada em 2014 com cabos e soldados de 36 UPPs.
Ao todo, 60,1% dos agentes admitiram ser alvo de sentimentos negativos dirigidos a eles pela população. É o maior índice das três aplicações da pesquisa - em 2010 foram 28%; em 2012, 46,1%. Já 42,4% dos PMs se sentem inseguros nas favelas "pacificadas". Neste panorama, 65,8% dos policiais contaram que foram xingados no trabalho nos três meses que antecederam a pesquisa. Já 63% foram desrespeitados no período.
O relatório da CESeC, que será divulgado hoje, detecta ainda que 35,5% dos policiais de UPPs estão insatisfeitos com o ofício. Destes, 90% gostariam de atuar em um batalhão convencional ou em uma unidade especial do Comando de Operações Especiais (COE).
Os dados apontam para uma aproximação entre as rotinas das UPPs e dos batalhões convencionais, que não adotam práticas de policiamento comunitário, dizem especialistas. "Isso mostra uma fragilização da lógica do policiamento de proximidade e a predominância de um tipo de policiamento tradicional dos batalhões", afirmou a cientista social Silvia Ramos, uma das coordenadoras do CESeC.
Um exemplo disso é que só um quarto (25,8%) dos policiais disse realizar com muita frequência práticas de aproximação com moradores.
"No começo, uma das razões para trabalhar nas UPPs era a segurança. Os comandantes chegaram a andar desarmados. Mas isso ficou mais e mais parecido com trabalhar na polícia convencional. O que parece é que tem policial que gosta dessa ideia de que a UPP se tornou algo convencional. Aquele policial que estava insatisfeito por ser chamado de 'babá de bandido' e de 'porteiro de favela' hoje está performando o estilo do policial militar tradicional", analisa Silvia.
Cenário.
O Estado de S. Paulo..