"É uma maneira de tentar passar a nossa maneira de pensar, com metáforas e coisas do gênero, para mostrar que certos tipos de raciocínios ou certo tipo de maneiras de enxergar os objetos com os quais que a gente trabalha não são tão distantes assim da maneira abstrata com que você pode ver artes ou outras coisas. Então a gente pode aproximar um pouco esse universo.”
Na mesa, Frenkel comparou o ensino da matemática ao que seria o ensino da arte sem mostrar os grandes mestres. “Apesar de a matemática ser cada vez mais central nas nossas vidas, com o uso das tecnologias, nós fugimos cada vez mais dela. Matemática tem a ver com números e cálculos, mas não é só isso. É como se você estivesse em uma aula de arte e só pintasse paredes e o professor nunca mostrasse Picasso. Quando as pessoas dizem que odeiam matemática, querem dizer que odeiam pintar parede.”
O russo destacou que toda a matemática estudada na escola atualmente foi escrita há mais de mil anos. “É um problema muito complicado e não vai ser resolvido de um dia para o outro. São séculos de ensino assim e o resultado é escandaloso. Quantos não se deram conta de que toda a matemática que estudamos na escola tem mais de mil anos, a geometria euclidiana tem 2,3 mil anos. Imagina que em literatura estivéssemos lendo apenas Homero. São livros bons, mas muitas coisas foram escritas depois disso. Em matemática é a mesma coisa”, comparou.
Os dois lembraram que matemática não se restringe a cálculos e números, mas muitas vezes acaba resumida a isso. Artur Ávila relatou que, em Paraty, um jornalista pediu para que ele calculasse o número de pedras no calçamento das ruas do centro histórico. “Isso faz parte um pouco da maneira como as pessoas não sabem o que é a matemática, ficam imaginando o que a gente poderia fazer. Encontrar um matemático e pedir para ele calcular uma coisa dessa seria a mesma coisa que chegar a uma feira literária, encontrar um grande escritor e pedir para ele fazer palavras-cruzadas com você, como um desafio literário. Não é a atividade do sujeito, é um desafio matemático, mas não tem nada a ver. É o primitivo, é o conhecimento dos números”, destacou Ávila. “É como chamar Picasso e pedir para ele pintar uma parede”, brincou Fenkel.