Segundo o dirigente, o abandono dos cargos de chefia terá início pelas delegacias do interior, passando pelas superintendências da PF nas capitais, até chegar ao edifício-sede da corporação, em Brasília. “Na nossa concepção, a greve em si, a paralisação das atividades, não beneficia nem os delegados, nem a PF e muito menos o Brasil, somente aqueles que estão sendo investigados ou os malfeitores de uma forma geral. Portanto, decidimos seguir com nosso protesto sem interromper nenhuma investigação”, afirmou.
O delegado Marcos Leôncio explicou que o protesto foi aprovado por mais de 50% de todos os delegados associados à ADPF. Além daqueles que deixam os seus postos de chefia, segundo o presidente, existe o compromisso dos colegas de recusar a substituição da posição. A expectativa é que a direção-geral da PF intervenha junto ao governo para atender a expectativa da categoria. Além de reajuste de 37% em três anos, os delegados reivindicam a criação de pelo menos 5 mil cargos administrativos, o pagamento do adicional de fronteira, aprovado desde 2013, e a criação de gabinetes de investigação, com um delegado, um escrivão e dois agentes, para agilizar os trabalhos.
DECEPÇÃO Na última quinta-feira, o governo reuniu todas as entidades de classe representativas dos servidores federais e apresentou proposta de reajuste, que inclui a PF, de 21,3% para pagamento em quatro anos.
Nem mesmo o aperto dos cintos promovido pelo reajuste fiscal é capaz de inibir os delegados, especialmente, em tempos de Operação Lava-Jato, que já está em sua 14ª fase, com prisão de políticos, doleiros, donos de grande empreiteiras, entre outros, suspeitos de abocanhar os recursos da Petrobras. E Marcos Leôncio tem uma explicação na ponta da língua para isso: “O verdadeiro ajuste fiscal quem está fazendo somos nós, delegados federais, por meio da Operação Lava-Jato. Basta verificar o balanço da estatal para comprovar a importância do nosso trabalho”. Ele diz que, na década de 1990, um delegado federal tinha um salário equivalente ao do juiz federal. Hoje, em razão da defasagem, a equivalência é o quadro de analistas que apoiam os magistrados. “Fomos considerados uma carreira jurídica, mas sem equiparação com outras carreiras”, conclui.
AUTONOMIA Mesmo não fazendo parte das reivindicações, os delegados federais estão investindo ainda na aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 412/2009, que prevê a autonomia administrativa e financeira da Polícia Federal. O texto já está na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e tem como relator o deputado federal João Campos (PSDB-GO), que apresenta seu voto em agosto. “Vou votar pela admissibilidade da matéria, já que não ofende as regras da nossa Carta”, diz.
No entanto, Campos, que é delegado de Polícia Civil, diz que a PF, que é ligada ao Ministério da Justiça, não deve ter todas as autonomias. “Sou favorável à autonomia econômica e financeira, que viabilizaria mecanismos para um melhor aparelhamento com identificação das necessidades da corporação.
O que eles querem
Reajuste de 37%, em três anos
Criação de 5 mil cargos administrativos até 2018
Pagamento da indenização de fronteira, aprovada desde 2013
Criação dos gabinetes de investigação criminal para agilizar as investigações
Fonte: Associação dos Delegados da Polícia Federal (ADPF)