O estudo Mapa da Violência 2015 - Mortes Matadas por Armas de Fogo, do sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, mostra que todos os anos morrem no Brasil 285% mais jovens de 15 a 29 anos do que pessoas em outras faixas etárias e a chamada vitimização juvenil se repete em todos os Estados e todas as capitais do País. Em Vitória, no Espírito Santo, morrem 587% mais jovens do que a população em geral. Em Maceió (AL), a capital mais violenta do País, 489% a mais. E mesmo em Florianópolis (SC), que tem uma das menores taxas de homicídios no Brasil, ainda morrem 481% mais jovens.
O relatório mostra que a taxa de homicídios começa crescer aos 16 anos, quando pula de 19,7 por 100 mil habitantes para 37,1. Aos 17 já está em 55,6 , chega a 62,9 por 100 mil aos 19 anos e se mantém acima dos 50 até os 24 anos.
Toda essa violência é concentrada principalmente nos homens. A taxa de mortalidade entre as mulheres é de apenas 2,6 por 100 mil e se mantém em torno de três em 21 das 27 unidades da federação, só aumentando drasticamente em Alagoas, estado mais violento do País, quando chega a 6,1 por 100 mil. Do outro lado, a taxa nacional para mortes masculinas é de 42 por 100 mil - entre os jovens, 95% dos assassinatos são de meninos - e chega a 107 por 100 mil em Alagoas.
Expectativa de vida
A violência atinge diretamente os homens reduz significativamente a expectativa de vida dos brasileiros. A diferença entre homens e mulheres chega a sete anos, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística divulgados no ano passado, em que a média das mulheres é de 78,6 anos e a dos homens, 71,3. Um estudo da Fundação Bill e Melinda Gates que estuda as causas da mortalidade em 188 países mostra que no Brasil a violência é a segunda causa de mortalidade, enquanto no resto do mundo é apenas a 22º.
Os números são ainda piores e ganham características de extermínio quando se fala da população negra. O Mapa da Violência mostra que, enquanto as taxas de homicídios caíram 18,7% entre 2002 e 2012, entre os negros cresceram 14,1%. Com essa diferença no ritmo de crescimento, a vitimização da população negra dobrou em 10 anos. Era de 72,5% em 2003, passou a 142% em 2012", diz o relatório.
Waiselfisz aponta como uma das causas dessa crescente vitimização negra duas questões centrais: a privatização dos serviços de segurança e o jogo político-eleitoral.
"A segurança se transformou em um problema político por duas vias. A partir da década de 90 houve uma crescente privatização das atribuições do Estado, inclusive da segurança. Quem pode pagar, contrata os meios possíveis, e quem pode pagar é a população branca", explica. "Em outro lado, a violência entrou na pauta das eleições. A cobertura da segurança pública se distribui de forma desigual.