Luiz Gabriel e outras 249 crianças foram inscritas por seus pais ou parentes no dia 15 no mutirão de cirurgias de correção de lábio leporino e de palato da organização internacional Sorriso em Fortaleza. A iniciativa ocorreu em parceria com as secretarias de Saúde municipal e do Estado do Ceará e com a Fundação Beija Flor. Das 250 crianças, 92 foram operadas no Hospital Infantil Albert Sabin, onde quatro salas de cirurgias foram reservadas para o mutirão. Luiz Gabriel recebeu alta no dia 19.
No Brasil, a Operação Sorriso realizou 4.400 cirurgias nos últimos 17 anos.
O de Fortaleza, desta vez, envolveu 65 profissionais de saúde voluntários - de psicólogos e enfermeiros a pediatras e cirurgiões plásticos. Do grupo, 12 vieram de Honduras, do Peru, da Venezuela e dos EUA. O Albert Sabin é o único hospital infantil do Ceará e está habilitado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) a fazer as cirurgias de correção. Em média, realiza 20 dessas operações por mês em crianças de até 14 anos. Mas atende a outras 28 especialidades e casos bem mais severos a cada dia.
O Ministério da Saúde informou que, em 2013, 4.849 cirurgias como essas foram realizadas em todo o Brasil pelo SUS. No Estado de São Paulo, onde há centros de referência nesse campo, foram 1.835. No Ceará, apenas 187, o dobro do que a Operação Sorriso fez em apenas quatro dias e meio.
"Esperávamos cerca de 180 crianças para a triagem. Vieram 250", surpreendeu-se o pediatra Ricardo Bastos, do Rio, diretor-geral da Operação Sorriso no Brasil, no início do mutirão de Fortaleza. "Aqui estão os excluídos. Quanto mais pequenininha a criança for operada, melhor será sua fala, sua dentição e sua inserção social."
O objetivo da Operação Sorriso é reforçar a capacidade limitada dos sistemas públicos de saúde de realizar essas cirurgias de correção o mais cedo possível. Esse esforço evita que a criança experimente a rejeição, o preconceito e a exclusão nas escolas, creches e dentro das próprias casas - além da desnutrição e de infecções que podem custar a vida. Segundo a Operação Sorriso, bebês com essa má formação têm o dobro de chances de não sobreviver até o primeiro aniversário.
"Eu queria dar ela.
Lindionara tinha duas fissuras no lábio até o dia 17, quando foi operada. Como nascera com o palato normal, já estaria dispensada de nova operação. Francisca estava acompanhada do ex-marido Paulo José Ferreira, pai de Lindionara, no hospital. A menina de 2 anos, sua mãe e seus dois irmãos moram com a avó materna na Favela Planalto Ayrton Senna, na periferia.
Pobreza
Em cada gestação, há sempre 5% de risco de o bebê nascer com essa má formação congênita. O acompanhamento médico durante a gravidez é imprescindível para prevenir esses casos porque sempre há a indicação de ingestão de ácido fólico e de vitamina B12. A ausência dessas duas substâncias está na raiz da maioria dos casos. O fator genético igualmente pesa, mas os estudos do Projeto Genoma no Brasil estão em curso. "A principal razão está na pobreza e na desnutrição", diz o cirurgião Óscar Sarmiento, diretor técnico da Operação Sorriso em Tegucigalpa e líder da equipe que operou em Fortaleza..