No projeto de lei enviado à Assembleia Legislativa na semana passada, solicitando aval para um novo financiamento para o projeto pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o governo Geraldo Alckmin (PSDB) informa que o preço final do túnel saltou de R$ 2,5 bilhões para R$ 3,2 bilhões, alta de 27%.
Segundo o presidente da Dersa, Laurence Casagrande, a maior parte do aumento se deve a uma atualização do custo pela inflação. "Quase tudo é custo inflacionário. A data-base do projeto anterior era setembro de 2012. Nós atualizamos para junho de 2014. Além disso, incluímos a estimativa de reajustes futuros, com uma inflação anual de 6% até a conclusão da obra, em 2018, porque agora o financiamento do BNDES é em real. Antes nós estávamos protegidos desse efeito inflacionário porque os recursos do BID eram em dólar", disse.
O banco estrangeiro financiaria 42% do túnel, mas acabou cancelando o empréstimo por discordar de uma cláusula do edital que exigia a participação de ao menos duas empresas brasileiras no consórcio vencedor. Agora, o BNDES financiará 72,6% do túnel e a Dersa teve de adequar a nova licitação à legislação brasileira.
Ponte
Só o acréscimo no custo do túnel equivale ao valor total que o próprio governo paulista estimava gastar na construção de uma ponte estaiada ligando as duas cidades litorâneas: R$ 700 milhões. O ex-governador José Serra (PSDB) chegou a gastar R$ 1,3 milhão no projeto básico da ponte e a apresentar uma maquete da obra em março de 2010, quando era pré-candidato à Presidência. A promessa era inaugurá-la em 2012.
Em seu primeiro ano de governo, em 2011, Alckmin abortou a ponte e anunciou a construção de um túnel que custaria R$ 1,3 bilhão. "A ponte não era consenso e apresentava alguns problemas técnicos. O projeto previa altura de 70 metros, quando se exige hoje o mínimo de 85 metros. Ela criaria um gargalo na zona portuária", explicou Casagrande.
O salto para os R$ 2,5 bilhões aconteceu, segundo o governo, por causa da ampliação das obras viárias de acesso e do uso de tecnologia inédita no País para a construção submersa, que usará estrutura pré-moldada. Segundo a Dersa, o custo específico do túnel, que terá 762 metros e pistas exclusivas para transporte coletivo e bicicletas, é de R$ 596 milhões.
A promessa é reduzir de 20 minutos para 1 minuto e 42 segundos o tempo médio de viagem entre Santos e Guarujá. Hoje, para ir de uma cidade a outra é preciso percorrer cerca de 40 quilômetros pela rodovia ou fazer a travessia do canal por oito balsas que têm capacidade para, no máximo, 40 veículos de pequeno porte. A limitação desse transporte chega a provocar mais de um quilômetro de fila de veículos durante a temporada de verão, quando a viagem demora mais de um hora.
História
A ligação seca entre Santos e Guarujá é uma demanda antiga e já foi projetada de diferentes formas nas últimas oito décadas. Segundo levantamento feito pela Dersa, o primeiro projeto, que previa a construção de um túnel no canal, foi feito por um engenheiro italiano em 1927. Vinte anos depois, o engenheiro Prestes Maia, ex-prefeito de São Paulo, elaborou três ligações no Plano Diretor de Santos concluído em 1947: duas pontes e um túnel.
Entre idas e vindas, o projeto atual parece ser o plano definitivo.