Jornal Estado de Minas

Brasil reduz desigualdade social, mas ainda tem longa batalha

Para os especialistas, os programas sociais têm papel importante na superação do problema

Amanda Almeida Júlia Chaib
"É um problema reconhecido, mas o desenvolvimento do país vem mostrando harmonização crescente", diz a coordenadora do Atlas Brasil no Pnud - Foto: Pedro Ladeira/Esp. CB/D.A Press

Ao ajustar o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil à desigualdade social do país, o indicador cai de 0.744 para 0.542. Sob essa ótica, a queda é de 27%. Especialistas do Pnud destacam que o retrato revela que, embora venha crescendo em termos de desenvolvimento humano, o país ainda é muito desigual.

O sociólogo e professor da Universidade de Brasília Marcelo Medeiros diz que o recorte relembra a necessidade de tornar a sociedade mais igualitária. “Quando você introduz uma medida de desigualdade no IDH, você lembra que o índice está associado a uma sociedade mais igualitária, o que não acontece no Brasil. Está diminuindo, mas o 1% mais rico no país concentra mais renda que a metade mais pobre junta”, diz Medeiros.

“A desigualdade é uma questão que ainda precisa ser equacionada. É um problema reconhecido, mas o desenvolvimento do país vem mostrando harmonização crescente”, diz a coordenadora do Atlas Brasil no Pnud, Andrea Bolzon.

Para os especialistas, os programas sociais têm papel importante na superação da desigualdade. Jorge Chediek, coordenador-residente do Sistema Nações Unidas no Brasil e representante-residente do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) no Brasil desde 26 de abril de 2010, diz que é preciso continuar investindo nas iniciativas.

“Muitas pessoas falam da ideia de que tem de ter programas de saída, mas às vezes, não vai ser possível que as pessoas saiam permanentemente da pobreza, porque têm um capital social muito baixo. A educação muito baixa, elas pertencem a regiões muito pobres, têm pouco capital social”, diz Chediek.

No relatório do Desenvolvimento Humano 2014, o Pnud apresenta ainda o Índice de Pobreza Multidimensional.
A tentativa é identificar a pobreza não apenas pela renda per capita, mas também por privações em áreas como saúde, educação e padrão de vida. No Brasil, 3,1% da população é multidimensionalmente pobre, enquanto um adicional de 7,4% estão próximos da pobreza multidimensional.

Maria Lucineide da Silva, 48 anos, é um exemplo de como o poder de compra no país cresceu. Há 20 anos trabalhando como empregada doméstica em apartamentos no Plano Piloto, ela conta que o destino de todo o salário que ganhava era para sustentar a casa onde mora com os quatro filhos, no Jardim Ingá. O primeiro sonho consumista Maria satisfez ao comprar um microondas, parcelado em seis vezes. O que antes era loucura, foi possível graças aos R$ 189 que começou a receber do Bolsa Família há três anos. “Esse dinheiro alimenta minha autoestima”, disse, enquanto comprava quatro jornais na livraria da Rodoviária.


Ela fica impaciente quando ouve que o Bolsa Família é uma esmola. “Já falaram que esse dinheiro é como ‘dar o peixe sem ensinar a pescar’. Mas eu sei pescar. É uma ajuda que só me dá vontade de buscar mais”, explica. A maior mudança que sentiu foi ao comprar o material escolar dos filhos pela primeira vez. “Deu para levar uma mochila melhor, um caderno mais bonito. Antes o dinheiro ia todo para o leite”, lembra. .