No sábado (24), foi apresentado um dos representantes do Chile, "Matar a un Hombre", de Alejandro Fernández Almendras, e já provocou polêmica entre os críticos presentes (gente do Uruguai, Argentina, Bolívia, Brasil e do próprio Chile). Houve quem considerasse a história duvidosa do ponto de vista, digamos, político.
O personagem principal é Jorge, um guarda florestal diabético, que mora num bairro de periferia.
Essa storyline não faz do longa de Almendras um êmulo banal de "Vontade de Matar", o apologista fílmico da "justiça com as próprias mãos". Pelo contrário. Há todo um cuidado em caracterizar o personagem principal como homem fragilizado, contraditório e com problemas de consciência. O filme põe em pauta a questão da violência urbana e de como somos obrigados a lidar com desafios que às vezes dizem respeito à nossa própria sobrevivência. A esquerda tradicional, como se sabe, sempre teve dificuldade a tratar do problema. Como se dissesse: "O nosso foco único é a justiça social, deixamos o discurso da segurança para a direita." Esse equívoco provocou perda de votos e de credibilidade. Afinal, segurança não é uma questão ideológica, mas um direito do cidadão, e vazios do Estado tendem a ser preenchidos por aventureiros.
Almendras tem a coragem de tocar nessa questão espinhosa. E também corre o risco de ser mal interpretado ao fazê-lo. Cinematograficamente, o filme é muito interessante, despojado, "quase bressoniano", como lembrou alguém. Refere-se ao francês Robert Bresson, o mestre por excelência do despojamento, tanto nas atuações como nas opções narrativas, com a ausência de tons melodramáticos apelativos, uso parcimonioso, ou ausência completa, da música.
Em seus vários segmentos, o FAM apresentará até 30 de maio mais de uma centena de filmes, entre longas documentais e de ficção, além de curtas-metragens. Estão programadas mesas-redondas, debates e painéis sobre o audiovisual contemporâneo. Entre elas, "Desafio da crítica: as novas linguagens do audiovisual"..