Aarão Reis, professor da Universidade Federal Fluminense, avalia que "quebra-quebras e pancadarias" afugentaram "pessoas comuns" das manifestações. Mas identifica também "um certo desencanto em relação à efetividade" dos atos. "Há muita indignação com obras faraônicas, gastos feitos em nome dos grandes eventos, mas protestar por protestar soa meio vago. E a violência, seja da polícia ou dos black blocs, faz as pessoas tenderem a ficar em casa.
Já Pilatti, professor da PUC-Rio, ressalta que
desde as primeiras manifestações houve muitas pautas. "Os protestos de rua colocaram na ordem do dia temas incontornáveis e dramáticos como a violência policial, a concentração dos meios de comunicação, deficiências da representação política, modelo de transporte, remoções de famílias pobres. É nesse sentido que eu leio o 'não vai ter Copa'. O que se questiona não é o acontecimento esportivo, mas o modo como a decisão dos megaeventos foi tomada e a execução, que expõe promiscuidade entre público e privado que ninguém mais aguenta", afirma. "A repressão, a postura com que a grande imprensa tratou os manifestantes, e o terrível acidente que vitimou o cinegrafista da Band provocaram um clima que fez com que as manifestações refluíssem".
Os dois estudiosos ressaltam, no entanto, que os movimentos de junho não se extinguiram. Ambos destacam o fato de as mobilizações terem reverberado em favelas. "As comunidades mais pobres não aceitam, como aceitavam, a violência policial, a ação agressiva. A arbitrariedade tem gerado revoltas", diz Aarão Reis. Pilatti fala em "pedagogia da revolta". "Isso ocorre principalmente entre os excluídos, que começaram a construir uma forma de expressar sua demanda por direitos. A sociedade e o jovem, sempre tão acusados de alienados, e sobretudo os pobres, desenvolveram uma consciência política nesses meses, que parecem anos. É um processo rico. E está apenas começando".
Embora manifestações gerais estejam mais esvaziadas, as greves setoriais voltaram a levar gente para as ruas, no Rio, como já ocorrera com os professores em outubro.