João Luís Ceccantini, professor de Literatura da Universidade Estadual Paulista (Unesp), é favorável a adaptar textos antigos, como os da Idade Média ou de antes de Cristo. "Já para obras mais recentes, como as do próprio Machado de Assis, eu resisto", afirma. "Esse texto está próximo de nós, do ponto de vista literário e linguístico", afirma.
Outro argumento de Ceccantini é que a possibilidade de adaptação depende do tipo da obra. Para alguns clássicos, por exemplo, as adaptações permitem que os alunos conheçam a trama central, o que ajuda na construção do repertório. "Já no caso do Machado, as histórias são banais. A graça está em como é construída a narrativa."
O escritor de livros infantojuvenis Cláudio Fragata explica que a adaptação bem feita exige um entendimento cuidadoso da obra e do público-alvo. "Tento buscar um viés que interessa ao jovem de hoje para conduzir a narrativa", diz ele, que já adaptou obras de autores estrangeiros, como o francês Júlio Verne.
Dificuldades
Vera Bastazin, coordenadora do Programa de Pós-graduação em Literatura e Crítica Literária da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP), diz acreditar que o uso excessivo de versões revela a falta de intimidade dos professores com os clássicos. "A adaptação, muitas vezes, não é para o aluno, mas para quem dá aulas. A maioria dos professores não tem preparo e hábito de leitura", alerta.
Outro problema, segundo ela, é que há muitos projetos de governo que usam as adaptações com visão simplista. "Ao reduzir o tamanho e facilitar a obra, entende-se que todo mundo vai gostar de ler. Isso é uma ilusão.".