Doze crianças, entre elas dois bebês, de dois e três meses, uma grávida de nove meses e uma senhora de 82 anos estão no grupo que dormiu na porta da Prefeitura, sobre lençóis e sacos plásticos. Boa parte é egressa de comunidades cujos imóveis tiveram valores reajustados depois da instalação de Unidades de Polícia Pacificadora, como Jacarezinho, Manguinhos, Arará e Mandela (as áreas se valorizam com a diminuição da criminalidade).
A maioria das pessoas ouvidas pelo Estado contou que paga cerca de R$ 300 reais por mês por quitinetes. Algumas estavam sob viadutos da zona norte. As que têm vínculo empregatício relatam ganhar salário mínimo (R$ 724).
Entre ficar de favor na casa de parentes e ocupar o edifício de quatro andares da Oi (um antigo almoxarifado desativado que ganhou o nome de Favela da Telerj, em alusão à antiga companhia telefônica do Rio), preferiram a segunda opção, mesmo sob risco de expulsão violenta.
Elas levaram eletrodomésticos e gastaram o pouco que tinham guardado para comprar material de construção para fazer divisórias entre os barracos - sem ventilação e de no máximo nove metros quadrados.
Ontem, com o prédio cercado pela PM, os pertences e entulho foram retirados de caminhão. Funcionários da Light desfaziam gatos de luz. Na sexta-feira, o confronto dos ocupantes com a PM resultou em 16 feridos, sendo nove policiais. Veículos foram incendiados, dois supermercados, saqueados e lojas e agências bancárias, depredadas.
Por volta de três mil pessoas estavam morando ali.
"Eu estava vivendo dentro de uma igreja evangélica no Jacarezinho e achei que valia ir a pena para o prédio.
Com dois meses, o bebê Carlos Alessandro foi mantido com a mãe, que tem outros quatro filhos. Ontem de manhã, ela deixou o menino com a irmã, Adriana Aldeir, de 40 anos, sob uma sombra em frente à Prefeitura, para procurar um lugar para tomar banho. "Sabia que podia não dar certo, mas tinha que tentar. A polícia entrou como se fosse o Carandiru. É pedir muito querer um teto para morar?", dizia Adriana, que é doméstica e teme perder o emprego, num apartamento em Ipanema. "Não posso sair daqui sem pelo menos meu nome num cadastro".
O grupo chegou à Prefeitura na sexta à tarde. Servente aposentada, Gelsa Ramos, de 82 anos, que até dois anos atrás fazia faxina para conseguir sobreviver, não pretende sair dali. "Se nós não ficamos, o governo acha que não estamos precisando".
A manicure Angela Xavier, de 34 anos, admite que o grupo foi ingênuo ao acreditar que poderia ter uma nova vida no prédio. "Não achei que a justiça iria esnobar o pobre dessa maneira e proteger uma empresa que tem um prédio vazio há anos. A injustiça social desse País é inacreditável.".